«Conforme os gostos (mas
esquecendo, como sempre, os números da abstenção), os resultados das eleições
foram interpretados de 2 formas distintas: 1) 73% dos portugueses querem que
PSD, PS e CDS se entendam para formar ou apoiar um governo europeísta (é a posição
dos editores da comunicação social e seus comentadores); OU: 2) 63% dos
portugueses querem um governo apoiado pela esquerda.
Tal como Pacheco Pereira já
sugeriu várias vezes, o que os portugueses disseram, embora difusamente, é que
a antiga linha divisória entre os “bons” e os “maus” foi alterada: já não
divide os apoiantes da economia de mercado contra os defensores da economia
socialista centralizada; não divide os adeptos da democracia parlamentar contra
os apoiantes da “ditadura do proletariado” (o eleitorado jovem da esquerda
marxista já nem sequer aceita isto). A mudança deu-se porque os “mercados”
trataram de amarrar (centralizar) a economia a mecanismos financeiros que a
democracia não consegue controlar e que tornaram as populações reféns de um
novo regime de pensamento único. A atuação dos mercados e dos seus políticos
criou uma nova linha divisória: os que estão a favor da economia dos mercados
reais, com mecanismos de apoio social eficazes e uma regulação financeira
adequada (que existiu até aos anos 70 do séc. XX), contra os que preferem a
economia desregulada e instável dominada por uma ditadura financeira que
substituiu a real concorrência (entre quem produz e oferece bens e serviços)
por um jogo de póquer sobre mais-valias virtuais.
António Costa colocou-se no cerne
de uma jogada muito arriscada ao tentar alterar os termos do debate, porque nem
todos os cidadãos se aperceberam desta nova fronteira, embora a sintam no seu
dia-a-dia. Será que avançou antes de tempo? Talvez, mas fica com o mérito de
ter posto a nu esta mudança estrutural que está a germinar lenta mas
profundamente em todo o mundo ocidental. De facto, parece haver duas principais
correntes que poderão posicionar-se melhor no campo de batalha nos próximos
anos, a começar na Europa: a social democracia restaurada (com apoio da
democracia cristã, se esta ainda existir) ou a direita autoritária que cresce
(vitoriosa nas próximas eleições presidenciais em França, dominando a Polónia e
a Hungria e, escondida, à espreita em Portugal). Os cidadãos é que escolhem,
mas é aos políticos que compete propor os caminhos. Uma boa parte dos políticos
do PSD (exceto os que agora comandam este partido) e do PS (a maioria das duas
“fações” em confronto) deviam conversar sobriamente sobre isto, depois de
assentar a poeira da formação do governo. Os caminhos para sair da abstenção
(45%!) ou serão abertos por esta corrente, ou pela direita autoritária que,
extremista, cresce ao virar da esquina em Portugal (ainda envergonhada) e na
Europa (às claras). Quem atrair os abstencionistas decidirá o futuro dos povos
europeus.»
Luis Taylor, Porto
Aqui está um boa análise aos tempos estranhos e perigosos que estamos a viver. Contudo não vejo qualquer mérito na movimentação do António Costa. Teria mérito, isso sim, se tivesse ganho as eleições como pretendia quando deu o golpe no António José Seguro. Assim, como perdeu (e por muito) entendo que esta jogada não passa de mais uma golpada para se manter na cadeira do poder. Ele não pôs a nu nada, limita-se a ter ficado despido e agora anda a negociar uns trapos para tapar as suas vergonhas.
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