sábado, 7 de novembro de 2015

O ACORDO DE ESQUERDA E A RESERVA MENTAL



Dizem que António Costa (AC) é um político inteligente e muito experimentado. Sinceramente, depois do que se passou nos últimos dias, penso que o seu raciocínio está toldado pelo seu primordial objectivo de ser PM, apesar de ter perdido as eleições. Em recente entrevista na TV, teve de confessar que os partidos de esquerda a que se quer aliar para derrubar o novo governo, não quiseram ficar no governo que irá eventualmente apresentar ao PR. Como é que AC pretende que o PR acredite na sua solução governativa, se o próprio PCP e o BE não acreditam, ao ponto de comprometerem nele um simples ministro? Pode ser uma alternativa válida para derrubar o actual governo, porque disporá de maioria de votos na AR, mas governar em termos de curto ou médio prazos é outra coisa, bem diferente. No governo todos os dias se tomam decisões, depois de ponderar diferentes opções. AC não percebe que estando PCP e BE fora do governo, teria de consultar estes partidos diariamente? Não se lembrará que todos os governos que quiseram ter maioria parlamentar, sempre procuraram comprometer os diferentes partidos apoiantes no mesmo governo? O actual governo e o anterior, que pela primeira vez conseguiu, embora com dificuldades conhecidas, completar uma legislatura completa, tinham a maior parte dos ministros como membros dos partidos componentes e os outros da mesma área política. O PR tinha considerado em 22 de Outubro, que o PS e os seus actuais aliados tinham apresentado "uma alternativa claramente inconsistente" (fim de citação). E acrescentou na mesma altura, ser "significativo que não tenham sido apresentadas, por essas forças políticas, garantias de uma solução alternativa estável, duradoura e credível" (fim de citação). Ora como é que AC poderá garantir, com ou sem papel assinado pelos partidos ora aliados no derrube de Passos, que o seu proposto governo é estável, duradouro, credível e consistente? Concluindo, o PCP e BE dizem que vão apoiar AC, mas não aceitando entrar no governo, estão necessariamente com reserva mental. Na primeira divergência, na primeira confrontação de princípios programáticos dos vários partidos, quem não está no governo, está sempre mais à vontade para dar a facada mortal no PM, quando este não se render ás suas exigências. Em boa verdade, o único objectivo desta aliança de esquerda, em que todos estão 100% consistentes, é no derrube deste novo governo. Em tudo o mais, sobretudo na questões europeias e orçamentais, são pouco credíveis e nada consistentes.
OBS. Publicado no jornal Público na sua edição de 10/11/15.

2 comentários:

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