Formulando esta interrogação a uma pessoa muito chegada,
esta, assim me respondeu: “é aquilo que habitualmente se faz e se continua a
fazer”.
E fiquei a digerir o respondido – que se prende com memória,
recordação, lembrança, uso, hábito, costume –, até que cheguei à seguinte
conclusão: o tradicional, então, serve para o bem e para o mal, isto é, pode
ser usado para se continuar a fazer o que está já em desuso, por inoportuno, ou
por pôr em causa as leis vigentes e não socialmente aceites pela sociedade
actual.
Por exemplo, em tempos idos, era normal – em parte da região
onde nasci, o Douro –, um assassino ser enterrado vivo por debaixo do caixão da
vítima assassinada.
E ainda outros maus exemplos da tradição: em Barrancos
continua a perpetuar-se a morte de touros, tal como em outra localidade ser
tradicional colocar um gato dentro de um pote de barro no cimo de um poste e
pegar fogo a todo o conjunto, somente para se ver o que acontece ao pobre gato.
Portanto, o tradicional pode ser muito nefasto, e os nossos
egrégios antepassados ficarão muito contentes se os seus descendentes
corrigirem o que eles erradamente praticavam por tradição.
Logo, também era tradição recente indigitar-se o líder de
uma organização política para formar governo, mas agora verifica-se que essa
tradição não era a mais acertada.
Há muitas ‘cândidas’ formas de se querer perpetuar o
obscurantismo por parte dos mais poderosos em detrimentos dos mais fracos.
José Amaral
"Quanto menos se justifica uma velha tradição, mais difícil é livrarmo-nos dela"...
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