«No seu último artigo titulado "A hora de embainhar as
espadas", faz o jornalista Manuel Carvalho uma muito interessante análise
sobre o actual momento, com a qual concordo em boa medida.
Pena é que não se contenha e aduza, também ele, o estafado e
intencionalmente falso juízo sobre o acordo dos partidos da esquerda
parlamentar, que ele considera, entre parênteses, cito, "uma negociata nos
bastidores sem ser apresentada ao escrutínio democrático dos eleitores na
campanha". Ou seja, para Manuel Carvalho, como para toda a direita, os
dirigentes do PS, mesmo antes de saberem os resultados das eleições deveriam
ter dito que iriam fazer um acordo com o PCP e o BE, mas não precisavam de
dizer que fariam um acordo com a direita. Neste caso seria democrático não o anunciar.
Mas que critério é este?! É o mesmo do actual Presidente, em que só um acordo
do PS com o PaF é que é bom?! E se António Costa tivesse anunciado, em
campanha, um acordo à esquerda e esta não tivesse uma votação que o permitisse?
Já achava bem, Manuel Carvalho? E António Costa não denunciou logo no seu
discurso no congresso do PS o princípio do "arco da governação" e não
afirmou que não se poderiam excluir outros partidos da possibilidade de
governar? E não afirmou em campanha, mais do que uma vez, que chumbaria o OE
que fosse apresentado pela coligação? E, durante a campanha eleitoral, não
afirmou António Costa que estava aberto a um acordo de legislatura com qualquer
partido desde que fosse garantido um governo estável e duradouro? E não
trabalhou nesse sentido, tomando a iniciativa de se reunir e discutir com todos
os partidos com assento parlamentar? Se alguém contou com o ovo na galinha não
foram seguramente os partidos à esquerda, mas a coligação, o actual Presidente
e a direita em geral. Daí a insistência, mesmo que entre parênteses, no
argumento da "negociata".»
Artur Pinto, Lisboa
(Público, 31-10-2015)
A estupidez também, algumas vezes, ataca pessoas que estão bem colocadas socialmente e não é apanágio apenas dos pobre-diabos.
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