domingo, 30 de setembro de 2018

Visita à Coreia do Norte


Visitei a Coreia do Norte na segunda quinzena de Setembro: é diferente de tudo o que estamos habituados. Quando chegamos ao aeroporto, vamos de autocarro para o hotel. Deslocamos-nos para visitas, sempre no autocarro, com 2 guias, uma que explica e outra que acompanha (será militar? Não se chegou a saber); e também um indivíduo com máquina de filmar, que tem o objectivo de, no final da visita, vender o DVD para ficarmos com memória da viagem, mas a opinião geral é que as imagens seriam para arquivo oficial, uma vez que, se fosse apenas objectivo comercial, a venda dos DVD's não seria suficiente para pagar as estadias de hotel e refeições.
Não podemos circular fora deste esquema: autocarro, hotel e locais a visitar. Não podemos sair do hotel e dar uma volta pela cidade; não há manhã ou tarde livre
s. Andámos de metro, mas sempre acompanhados pelas guias e pelo homem das filmagens.

Não podemos tirar fotografias a edifícios inacabados; não podemos tirar fotografias onde (mesmo que seja em fundo) inclua soldados; as fotografias aos grandes líderes têm de ser de corpo inteiro (só busto é proibido); não se pode fotografar apenas 1, têm de ser os dois; não podemos estar de costas para os líderes (uma senhora do grupo sentou-se ao fundo da escada para descansar um pouco e pediram para se levantar porque estava de costas para os líderes); na visita ao mausoléu onde estão o pai e o avô do actual líder, não se pode falar nem...assoar.
A qualquer lado onde chegamos é-nos informado o que podemos ou não podemos fotografar.

Mas se existem coisas negativas, há outras que considero positivas: a questão artística.

Visitámos uma escola de ensino artístico (ballet, música, acrobacia, etc).
Começo pelo edifício: enquanto no nosso Portugal os alunos e professores se queixam com regularidade que chove na sala (ou que o tecto está a cair) onde se ensina música ou dança, o edifício na capital da Coreia do Norte onde se ensinam es
tas artes tem uma parte frontal que me fez lembrar o edifício da reitoria, em Lisboa, acrescido de duas partes laterais.
Assistimos a uma aula de ballet clássico por crianças de 10/12 anos, que me fez pensar que o nosso país (e não só) está muito longe d
o nível ali apresentado: nota-se claramente que existe grande investimento nesta área.
A seguir, e porque era quinta-feira, assistimos a um espectáculo no auditório, com entrada livre: dança, música, canto,
acrobacias, etc.
Tudo muito bem executado, tudo muito bem sincronizado, com entradas e saídas de palco, sem uma única falha. ESPECTACULAR.

Assistimos a outro espectáculo no estádio 1
º de Maio, o qual só se realiza de 5 em 5 anos.
Com centenas de participantes, também nas várias áreas: foi a primeira vez na vida que assisti a 8 pianistas a tocar ao mesmo tempo.
Poderá eventualmente ter passado notícia deste evento nos nossos telejornais, porque dois dias antes da nossa ida, estiveram presentes os presidentes das duas Coreias, dado que tiveram uma cimeira nos dias 18 e 19 de Setembro, e foram juntos a este espectáculo.

Na Coreia do Norte: todas as pessoas têm direito a habitação, sem qualquer custo - apenas pagam água e luz. Não tenho informação sobre a área de cada habitação, mas sabe-se que um artista, ou desportista, ou intelectual, quando ganha prémio ou medalha, tem direito a habitação com maiores dimensões.
A cidade de Pyongyang é a cidade mais limpa que conheço. Ao que me apercebi a limpeza é feita pelas várias comunidades de bairro. Não há contentores nem camiões de lixo.
O povo da Coreia do Norte é de uma afabilidade extraordinária.
Pena que um pequeno pormenor não nos deixe um pouco de liberdade para fazermos o que fizemos hoje em Seoul, capital da Coreia do Sul: tempo livre para irmos para onde nos apetece.

A agricultura na Coreia do Norte, fez-me lembrar o Ribatejo da minha infância: muita gente ocupada nas actividades rurais, em particular nos arrozais, mas também no milho, etc.
E o que me trouxe à memória o meu Ribatejo da infância foi a total ausência de maquinaria, tudo é feito pelo braço dos homens e das mulheres.
Se por um lado a ausência de máquinas pode contribuir para ausência de desemprego, poderemos prever que a entrada desses meios na actividade agrícola, poderá contribuir para esse flagelo.

Todos nós temos na memória as imagens do desfile militar que ocorre todos os anos na capital da Coreia do Norte: os militares a marchar de forma muito rígida e muito certinha, com ritmo que só eles conseguem.
Nesse desfile são também exibidos mísseis em cima de veículos.
Este ano,
e pela primeira vez, este evento não contou com a presença dos mísseis.
Sinal de mudança? Talvez.
Pormenor:
mesmo fora do período do desfile, não se pode circular a pé neste espaço.
No dia 20/9 (e não 19, como já afirmei noutro espaço) fomos visitar um museu (Exhibicion de Amistad Internacional), onde estão expostas ofertas feitas por vários países ou entidades: e lá constava um oferta de um grupo de Carcavelos, outra de um grupo do Diário de Lisboa e também do marechal Costa Gomes.

Não obstante existir linha de caminho de ferro, que liga as capitais da Coreia do Norte (Pyongyang), e da Coreia do Sul (Seoul) em cerca de duas horas, para o fazermos, tem de ser via Pequim, de avião, que dura o dobro do tempo, sem contar com a espera, entre voos.
Esta linha foi construida há cerca de 70 anos, mas mercê dos vários conflitos, nunca chegou a estar activa.

Esta linha passa nas proximidades do paralelo 38, que também visitámos, e onde tirei fotografias que conto publicar, quando os meios técnicos o permitirem - são só mais uns dias.

A televisão na Coreia do Norte apenas transmite até cerca das 10 horas da noite.
As notícias são repetidas várias vezes.
Há o canal Al Jazeera
, mas apenas nos quartos do hotel para os turistas. Nem os funcionários do hotel podem ver este canal.

E nos hotéis não há sala de convívio com televisão: quem entra, vai para o quarto e é lá que tem acesso.

Segundo informação obtida na Coreia do Sul, aqui ficam dados sobre diferenças salariais: na Coreia do Sul é de cerca de 30.000 dólares anuais, enquanto na Coreia do Norte ronda apenas cerca de 1.200. É muita a diferença. De qualquer modo esta informação foi obtida através do guia da Coreia do Sul.

1 comentário:

  1. Obrigado pela sua informção vivida "in loco". Ainda para mais dada de uma forma tão objectiva e neutra.

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