Quase
chegada a hora limite para enviar a minha colaboração para “O
setubalense”, e não vislumbro qualquer assunto específico para
partilhar aqui com os nossos prezados leitores e leitoras que seja
propriamente novidade. O que não quer dizer que não exista,
evidentemente! Mas, não sei se já repararam, dos casos mais
badalados; violência doméstica, Venezuela, Bairro Jamaica, greve
dos enfermeiros, o denominador comum, é a violência.
Já
estará alguém a interrogar-me: também a greve? Sim, a greve! E sem
questionar a razão e justeza da mesma e os polémicos métodos que,
segundo o Governo, levou à Requisição Civil, então o adiamento de
intervenções cirúrgicas não provoca mais sofrimento e até morte
a tantos pacientes? E o que é isso se não violência?
E
pronto!Infelizmente, embora não seja novidade, já encontrei um
assunto específico: a violência. Comecemos pela mais letal, mais
desumana, mais paradoxal, a denominada, e bem, violência doméstica.
Que, até ao momento que escrevo, este ano, já provocou 12 vitimas
mortais. Todas mulheres. Estou a incluir o caso que chocou o país; a
menina estrangulada pelo próprio pai que também matou a sogra. Não
é mesmo paradoxal? No seio familiar, no que deveria ser o porto de
abrigo, entre as pessoas de relações mais intimas e até de sangue,
esta selvática crueldade? Enfim! Complexidades do ser humano. Mas,
que urge sejam tomadas medidas! A começar nos bancos da escola e até
à universidade (para os que lá chegam, claro!) que se discuta e se
sensibilize crianças e jovens contra este flagelo, a violência. A
prevenção, como em tantas outras matérias, é fundamental. As
autoridades devem ser muito mais céleres. E a Justiça, passe o
pleonasmo, deve ser efetivamente justa e sem contemplações. São
vidas que estão em causa. É inadmissível esta barbaridade. E tão
frequente! Mas,não será tudo isto o corolário da sociedade,
também ela, tão violenta, em que vivemos? Não será o desemprego,
os baixos salários e pensões de reforma, as prolongadíssimas
esperas para se conseguir uma operação inadiável? Uma consulta?Não
será tudo isto e muito mais, também violência? E a corrupção,
os roubos e desvios de milhões e milhões quase sempre impunes, os
lucros e ordenados escandalosos de uma ínfima minoria, perante tanta
carência da grande maioria, não será ainda, tudo isto, também
violência? Não será o próprio sistema em que vivemos, o
capitalismo cada vez mais predador, a mãe de todas as violências?
Portanto, é imperioso que façamos o que nos é possível para
alterarmos este lamentável estado de coisas. E, sobretudo, a
violência. A isso nos obriga a solidariedade e a dignidade.
Francisco
Ramalho
Hoje em "O Setubalense"
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