Uma
girafa no presépio
A notícia
passou discreta, o que é pena. No mês de setembro(2016) foi divulgada a
descoberta de que as girafas, que sempre foram consideradas mudas, incapazes de
emitir qualquer som, afinal “falam”. Uma equipa de cientistas da universidade
de Viena, depois de oito anos de investigação – há quem se dedique oito anos a
investigar o paleio das girafas – concluiu que estes quadrúpedes também
comunicam entre si através de sons, com a particularidade de só falarem à noite.
Não é que a aldeia das girafas se transforme à noite numa algazarra; é antes um
susurrar de quem não precisa de levantar a voz para se fazer compreender.
A descoberta
de que animais, que se julgavam sempre calados, afinal dizem alguma coisa, não é
tão grande como a de que animais que estão sempre a falar, afinal não dizem
nada. Este sim, talvez fosse um desafío a sério para os cientistas de Viena:
como se explica que pouco digam os que nunca se calam? Quem já passou oito anos
a escutar girafas enganadoramente mudas bem podia passar outros tantos a
estudar espécimes enganadoramente falantes…
E o que dirão
as girafas à noite? A investigação ainda não chegou lá, mas eu já. Criaturas
que só falam à noite, à luz da lua, está-se mesmo a ver que falam de amor.
Animais assim altos, sempre de cabeça erguida, a olharem longe, é claro que
falam do futuro; e também falarão do tempo e da dor do pescoço.
Está bem de
ver que o presépio é um lugar adequado para uma girafa. Faz melhor figura que burros, vacas e camelos. Animal digno de
estar ao lado da Sagrada Família na noite de Natal é mesmo a girafa; alguém
que, à luz de uma estrela e na companhia do Deus-menino, sussurra palavras de
amor e futuro.
Nota-Este
texto é da autoria do padre Aristides Neiva, dos Missionários do Espírito
Santo, transcrito por Amândio G. Martins.
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