segunda-feira, 8 de maio de 2017

                                             Uma girafa no presépio

A notícia passou discreta, o que é pena. No mês de setembro(2016) foi divulgada a descoberta de que as girafas, que sempre foram consideradas mudas, incapazes de emitir qualquer som, afinal “falam”. Uma equipa de cientistas da universidade de Viena, depois de oito anos de investigação – há quem se dedique oito anos a investigar o paleio das girafas – concluiu que estes quadrúpedes também comunicam entre si através de sons, com a particularidade de só falarem à noite. Não é que a aldeia das girafas se transforme à noite numa algazarra; é antes um susurrar de quem não precisa de levantar a voz para se fazer compreender.
A descoberta de que animais, que se julgavam sempre calados, afinal dizem alguma coisa, não é tão grande como a de que animais que estão sempre a falar, afinal não dizem nada. Este sim, talvez fosse um desafío a sério para os cientistas de Viena: como se explica que pouco digam os que nunca se calam? Quem já passou oito anos a escutar girafas enganadoramente mudas bem podia passar outros tantos a estudar espécimes enganadoramente falantes…
E o que dirão as girafas à noite? A investigação ainda não chegou lá, mas eu já. Criaturas que só falam à noite, à luz da lua, está-se mesmo a ver que falam de amor. Animais assim altos, sempre de cabeça erguida, a olharem longe, é claro que falam do futuro; e também falarão do tempo e da dor do pescoço.
Está bem de ver que o presépio é um lugar adequado para uma girafa. Faz melhor figura  que burros, vacas e camelos. Animal digno de estar ao lado da Sagrada Família na noite de Natal é mesmo a girafa; alguém que, à luz de uma estrela e na companhia do Deus-menino, sussurra palavras de amor e futuro.

Nota-Este texto é da autoria do padre Aristides Neiva, dos Missionários do Espírito Santo, transcrito por Amândio G. Martins.

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