Eu explico. Antigamente os serviços de turismo
nacional promoviam, salvo erro, o "passe férias cá dentro". Ora eu,
com alguns eurozitos que escaparam do esbulho do governo aos reformados, passei
umas férias no "estrangeiro", mas no Algarve! É que existe um
empreendimento turístico no Algarve (obviamente não poderei dizer qual) que tem
normalmente uma ocupação de 5% de nacionais e o restante estrangeiros alemães.
Como a ocupação ronda os 100%, todo o ano, só alguns empregados não quadros são
portugueses. Geralmente (onde é que eu já vi isto?) na restauração, limpezas e
outros serviços que os alemães não querem realizar pelos mesmos vencimentos. No
resto, os donos, os directores e todos os quadros, são alemães. Só se fala e
escreve em alemão nas instalações, misturado por um pouco de Inglês, aqui e
acolá. Nada tenho apontar à excelente qualidade do serviço ou das instalações,
sociais, desportivas e lúdicas, em grande diversidade e categoria. Como os
trabalhos acabam por ser executados por portugueses, é caso para confirmar que
os nossos compatriotas, quando dirigidos por estrangeiros, são dos melhores do
mundo. Eu sou do tempo em que o regime anterior deixou criar uma certa
desconfiança (para dizer o menos) em relação aos nossos vizinhos espanhóis.
Agora, nesta "democracia", a desconfiança ou malquerença, está
centrada nos nossos credores europeus, designadamente alemães. Ora o que eu vi
nestas férias, é muito sintomático do que nos pode eventualmente esperar. Para
amortizar a brutal dívida que ainda temos, vamos vender cada vez mais empresas,
públicas e privadas. E Portugal vai funcionar muito "melhor", com
patrões alemães e trabalhadores nacionais "bem" enquadrados e dirigidos.
Já agora também, num esforço para uma melhor produtividade e eficácia (que o
nosso governo tanto exorta), podia despachar-se a equipa governativa para
Bruxelas (de que gostam tanto), e substituí-la por uma equipa alemã...
OBS. Este artigo foi publicado na edição do jornal Público de 28/8/14.
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