terça-feira, 26 de agosto de 2014

O dia tem muitos mundos!

Ainda a tempo de dar os parabéns a Julio Cortázar no dia do seu aniversário!
O centenário do seu nascimento vai ser celebrado em todo o mundo - leio com muita satisfação no PÚBLICO de hoje, 26 de agosto, exatamente o dia em que nasceu.
Cheguei à obra do argentino pela mão de outro escritor fantástico, o chileno Luis Sepúlveda. Em Uma História Suja, Sepúlveda escreve sobre os dois livros a que deve o que é, descobrindo neles “o mais infinito dos horizontes: o da criação literária”. Os livros a que se refere são Cem Anos de Solidão (de G.G.Márquez que nos deixou em abril deste ano) e Rayuela de Julio Cortázar.
Em agosto de 2008, encontrei este romance, editado pela Cavalo de Ferro que é dois livros num só (o leitor é convidado a escolher uma de duas possibilidades de leitura).
Depois de ler Rayuela apetece ir a Paris e percorrer as mesmas ruas e pontes e pátios por onde Maga e Horacio Oliveira caminhavam, se encontravam e se amavam. É um roteiro recheado de sugestões para se visitar de uma forma maravilhosa a cidade da luz e do amor!
 “Mas o amor, essa palavra…” ou  a passagem hilariante sobre os supositórios que estariam na moda, comparados a “pequenos obuses perfumados e aerodinâmicos, cor-de-rosa, verdes, brancos” ou “Tu és muito mais do que a tua inteligência” ou “A esperança pertence à vida, é a própria vida a defender-se”, etc., etc.
Depois de algo tão especial como Rayuela (ou O Jogo do Mundo), seguiu-se a leitura de A Volta ao Dia em 80 Mundos (é mesmo assim ) que mostra bem, logo no título, que Julio Cortázar leu o outro Júlio (Verne), pela mão de sua mãe : “Este dia tem então oitenta mundos: o número é para me entenderem e porque o meu homónimo gostava dele (…) ninguém pode saber quantos mundos existem no dia de um cronópio ou de um poeta, só os burocratas do espírito é que decidem que o seu dia se compõe de um número fixo de elementos (…)”.
Cortázar era um «cronópio», o Cronópio-Mor entre os amigos, como não se esqueceu de referir o jornalista Luís M. Queirós. Cronópio como tantos outros que Cortázar admirou na sua vida como Nijinsky, Picasso ou Louis Armstrong (o primeiro e o “enormíssimo”). Expressão que me foi muito difícil de compreender e me intrigou mais que tudo na leitura deste autor. Cortázar explica o que faz e não faz um cronópio («poeta» talvez seja um bom sinónimo) no capítulo «Louis, enormíssimo cronópio».
Não é fácil lê-lo. É bom demais e com uma cultura que não cabe no meu pequeno mundo!
Esperemos que o Ano Cortázar 2014 seja comemorado também em Portugal. Os leitores portugueses também merecem conhecer este nome grande da Literatura.

3 comentários:

  1. Escolhi Cortázar - sei lá eu porque peguei nesse livro esquecido em casa dos meus pais - para leitura de uma viagem de fuga para o Pais Basco, nos inícios dos anos oitenta. Andei por lá quatro anos, e abrimos portas à amizade.
    Difícil, sim, mas muito bom....e ainda muito desconhecido!
    Obrigado pela lembrança. Envio-lhe recomedações nossas?

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  2. Viagem de fuga? e para o país Basco? 4 anos? Deixou-lhe intrigada :)

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  3. Fugido de um amor que queria agarrar... ainda não tinha aprendido que o amor não se agarra, estreita-se.

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