O relatório Repensar
o Estado – Opções Selecionadas de Reforma da Despesa elaborado pelo
Departamento de Assuntos Orçamentais do FMI e o Memorando de entendimento da
troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional),
elaborados na sequência do pedido de assistência financeira a Portugal,
enumeram as medidas orçamentais a adoptar pelo governo para reduzir a despesa
do Estado.
O FMI, a CE e o BCE propõem, e o PSD
e o CDS aceitaram implementar, muitas vezes com cortes muito acima do que é
proposto, a redução da despesa na Saúde, na Educação, com salários, com pensões, a diminuição de postos de trabalho
nos serviços do Estado e a extinção ou fusão de serviços. O relatório e o
memorando exigem que o Estado promova a equidade e a melhoria dos serviços
públicos, mas com redução de despesas. E impõem a privatização das empresas
públicas.
Não é preciso ser economista para se
compreender que melhorar serviços públicos sem investimento é tarefa impossível
de concretizar. A realidade prova-o: os cortes no Serviço Nacional de Saúde têm
degradado a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, devido à falta de
enfermeiros e médicos, à rotura de stocks de medicamentos e de material
cirúrgico e ao isolamento das populações do interior do país com o encerramento
de especialidades médicas ou de centros de saúde; o desinvestimento na Educação
tem piorado a qualidade do ensino com o aumento do número de alunos por turma,
a falta de apoio a alunos com necessidades educativas especiais e a falta de
auxiliares de acção educativa e de professores que põe em causa o bom
funcionamento das escolas.
As privatizações das empresas
públicas escondem a intenção de apropriação por privados de empresas do Estado
altamente lucrativas, muitas delas construídas com o dinheiro dos
contribuintes, e dos recursos naturais de um país.
Perante as desastrosas consequências
sociais e económicas deste ideário neo-liberal próprio do capitalismo
monopolista, é realmente urgente repensar o Estado: criar um Estado que defenda
o interesse público e não o interesse privado.
Já dizia Rousseau no Contrato
Social: “Nada é mais perigoso do que a influência dos interesses privados nos
negócios públicos…”.
Também Noam Chomsky no livro “O lucro
ou as pessoas” afirma que “O neoliberalismo é o paradigma económico e político
do nosso tempo que permite que os interesses imediatos de investidores
extremamente ricos e de menos de mil grandes empresas (…)” controlem um país “(…)
com o objectivo de maximizarem os seus benefícios individuais.”
Manuel Coimbra
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