Meus Caros Amigos,
Estou no Douro, na minha
longeva aldeia natal. E, como estou numa espécie de retiro longe do massacre
diário das más notícias, não leio jornais e pouca televisão ouço, só
escuto o pulsar da Mãe Natureza perante o agreste horizonte que o homem tem
semeado.
Assim, acabei agora mesmo de
fazer este singelo poema que convosco quero comungar.
Ei-lo:
No começo … e agora
No começo era o alvor dos sonhos,
o princípio da leda madrugada.
Era o germinar das sementes
nas searas ondulantes ao vento
temperado,
tendo o Sol a bandeira da abundância.
Era a convocatória do porvir, onde todas
as cores do arco-íris estavam
representadas.
Era o barco de velas enfunadas
trazendo tudo a seu tempo
para aportar no cais de onde um dia
zarpou.
Lentamente, veio o entardecer,
sem que se desse conta de tal
contratempo.
E, das ameias dos castelos que restavam,
viu-se todo o tipo de pilhagens, com
a crescente nascença de ervas daninhas.
E, ninhos das mais variadas víboras,
impunes a todas as leis,
cobriram a terra fecunda onde nasciam as
esperanças de Abril.
E a promissora seiva de novos tempos
escoou-se por entre os escombros da
falésia,
a qual, varrida pelo vento suão,
sepultou tão alva esperança.
Presentemente, a embarcação de todos os
sonhos,
é um desconjuntado monte de destroços.
E todos os que podem pilham hora a hora
o que
outrora outros piratas eram uma miragem
de tais saqueadores de agora.
Actualmente, a seara dos nossos verdes
sonhos
já não cintila ao Sol de Abril.
Foi-se na voragem, espezinhada pela
cavalgada
de mercenários de fora e com
a conivência de todos os vendilhões
pátrios.
Agora, a Pátria, a longeva casa de todos
nós,
é uma despovoada e roubada casa
portuguesa.
Poucos se gabam de ouvir vagidos de um
novo ser,
restando somente escombros e ruínas,
onde outrora se ouviam pregões e risos
de crianças.
José Amaral
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