quarta-feira, 4 de novembro de 2015

DEVIAMOS OLHAR PARA O LADO

Fui o mês passado dar uma volta por Espanha. Saí em Vilar Formoso e fui até lá acima ao País Basco, à Cantábria e às Astúrias. E que vi eu! Vi nas imensas planícies de Castela e Leão, a perder de vista, o restolho do trigo, milhares de cabeças de gado, girassol e grandes montados de azinho. Na transição para as serranias do Norte, e nos lindíssimos vales destas, vi o verde da beterraba, do feijão , da batata, dos prados com imensas vaquinhas leiteiras, ovelhas e cabras. Vi as praias e a beleza deslumbrante da costa cantábrica. Vi os desfiladeiros de cortar a respiração e as encostas a pique dos Picos da Europa dum verde imaculado. Vi a linda e sempre orgulhosa Guernica ( onde a besta nazi cravou as garras para desmoralizar a Espanha republicana e progressista) com o seu moral de Picasso a lembrar os horrores da guerra para que os homens a abominem. Vi o arrojado Guggenheim em Bilbao com visitantes de todo o mundo. Vi cidades e vilas com belos jardins impecavelmente limpos. Vi parte de um grande país.
Depois de ver tudo isto aqui mesmo ao lado, regressei à nossa querida Lusitânia, para vê-la a ser devorada pelas chamas, devido não só às altas temperaturas, mas, sobretudo, devido à incúria, à irresponsabilidade e ao crime quase impune. Voltei para ver as nossas belas praias conspurcadas com milhões de beatas e outra lixarada ( as praias, as bermas das estradas e por quase todo o lado). Voltei para ver os olhos tristes e suplicantes dos cães abandonados que comovem o mais empedernido, menos os miseráveis que os abandonam, e não o suficiente, àqueles que os deveriam punir. Claro que também voltei para ver o que temos de bom! Mas o que temos de mau, é demasiado. Devíamos ser bem mais cívicos e patriotas. Ficarmos eufóricos e colocarmos bandeirinhas à janela apenas pela seleção de futebol, é limitado. Muito limitado!
Francisco Ramalho

Publicado na edição de 12 de Outubro de 2010 do Jornal de Notícias e no livro “Os Leitores Também Escrevem” Edições Vieira da Silva

Corroios, 4 de Novembro de 2015


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