Compatriotas,
Em Janeiro
de 1988, por iniciativa de O Comércio do Porto, levou este jornal diário a
efeito um certame intitulado ‘Portugal e os Descobrimentos’, em que os leitores
poderiam dar o seu contributo, através da rúbrica ‘Rota dos Leitores’.
Contribuindo
com muitos trabalhos, quero convosco compartilhar uma pequena parte dos mesmos
e que foram publicados pelo citado jornal nortenho.
Assim,
transcrevo-vos parte do que de meu nele foi publicado em 9/4/1988:
Da Profecia
á Crua Realidade
“Mas um
velho de aspeito venerando,
Que ficava
nas praias, antre a gente,
Postos em
nós os olhos, maneando
Três vezes a
cabeça, descontente,
A voz pesada
um pouco alevantado,
Que nós no
mar ouvimos claramente,
Cum saber só
de experiências feito,
Tais
palavras tirou do experto peito:
- Ó glória
de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade
a quem chamamos fama!
……………………………………………
Deixa intentado
a humana geração!
Mísera sorte!
Estranha condição!”
(in ‘Os
Lusíadas’ – Canto IV)
Não preciso
das sentenças do Velho do Restelo
Para analisar
o ostracismo a que fomos votados,
Não por
erros do momento áureo tão belo
Da época
quinhentista nunca mais chegados.
Mas outros
valores negativos se afirmaram
Nas mentes
governativas de então,
Pois para
primeiro desvario expulsaram
Os judeus
que de cultura muito tinham, mas em vão.
E, assim,
novas chagas aqui chegaram
Sendo a
primeira em mal a Inquisição,
Que tanta
escuridão em mentes povoaram
Traições,
mortes, desmandos sem perdão.
Surgiu, por
isso, grande confusão
Cristão –
católico, povo – clero,
Mas era tão
densa a maldição,
Que tantos
justos morreram aos pés de Nero.
Perderam-se
os bons costumes neste rincão,
Deixou-se a
terra para o fausto dos salões,
Onde pululavam
alguns falsários e muitos rufiões
À procura
fácil do ouro, que tanto fez perder esta Nação.
E, assim,
dormindo à “sombra da bananeira”
Ficou quatro
séculos esta heroica Pátria Lusitana,
Perdendo a
arca do progresso, e de primeira,
Para a cauda
se postou só com pragana.
José Amaral
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