Visitei
a Coreia
do Norte na
segunda quinzena de Setembro: é
diferente de tudo o que estamos habituados. Quando chegamos ao
aeroporto, vamos de autocarro para o hotel. Deslocamos-nos para
visitas, sempre no autocarro, com 2 guias, uma que explica e outra
que acompanha (será militar? Não
se chegou
a saber);
e também um indivíduo com máquina de filmar, que tem o objectivo
de, no final da visita, vender o DVD para ficarmos com memória da
viagem, mas a opinião geral é que as imagens seriam para arquivo
oficial, uma vez que, se fosse apenas objectivo comercial, a venda
dos DVD's não seria suficiente para pagar as estadias de hotel e
refeições.
Não podemos circular fora deste esquema:
autocarro, hotel e locais a visitar. Não podemos sair do hotel e dar
uma volta pela cidade; não há manhã ou tarde livres.
Andámos de metro, mas sempre acompanhados pelas guias e pelo homem
das filmagens.
Não
podemos tirar fotografias a edifícios inacabados; não podemos tirar
fotografias onde (mesmo que seja em fundo) inclua soldados; as
fotografias aos grandes líderes têm de ser de corpo inteiro (só
busto é proibido); não se pode fotografar apenas 1, têm de ser os
dois; não podemos estar de costas para os líderes (uma senhora do
grupo sentou-se ao fundo da escada para descansar um pouco e pediram
para se levantar porque estava de costas para os líderes); na visita
ao mausoléu onde estão o pai e o avô do actual líder, não se
pode falar nem...assoar.
A qualquer lado onde chegamos é-nos
informado o que podemos ou não podemos fotografar.
Mas
se existem coisas negativas, há outras que considero positivas: a
questão artística.
Visitámos
uma escola de ensino artístico (ballet, música, acrobacia,
etc).
Começo pelo edifício: enquanto no nosso Portugal os
alunos e professores se queixam com regularidade que chove na sala (ou que o tecto está a cair) onde se ensina música ou dança, o edifício na capital da Coreia do
Norte onde se ensinam estas
artes tem uma parte frontal que me fez lembrar o edifício da
reitoria, em Lisboa, acrescido de duas partes laterais.
Assistimos
a uma aula de ballet clássico por crianças de 10/12 anos, que me
fez pensar que o nosso país (e não só) está muito longe do
nível ali apresentado: nota-se
claramente que existe grande
investimento
nesta área.
A seguir, e porque era quinta-feira, assistimos a
um espectáculo no auditório, com entrada livre: dança, música,
canto, acrobacias,
etc.
Tudo
muito bem executado, tudo muito bem sincronizado, com entradas e
saídas de palco, sem uma única falha. ESPECTACULAR.
Assistimos
a outro espectáculo no estádio 1º
de
Maio, o qual só se realiza de 5 em 5 anos.
Com centenas
de participantes, também nas várias áreas: foi a primeira vez na
vida que assisti a 8 pianistas a tocar ao mesmo tempo.
Poderá
eventualmente ter passado notícia deste evento nos nossos
telejornais, porque dois dias antes da nossa ida, estiveram presentes
os presidentes das duas Coreias, dado que tiveram uma cimeira nos
dias 18 e 19 de Setembro, e foram juntos a este espectáculo.
Na
Coreia do Norte: todas as pessoas têm direito a habitação, sem
qualquer custo - apenas pagam água e luz. Não tenho informação
sobre a área de cada habitação, mas sabe-se que um artista, ou
desportista, ou intelectual, quando ganha prémio ou medalha, tem
direito a habitação com maiores dimensões.
A cidade
de Pyongyang é a cidade mais limpa que conheço. Ao que me apercebi
a limpeza é feita pelas várias comunidades de bairro. Não há
contentores nem camiões de lixo.
O povo da Coreia do Norte é
de uma afabilidade extraordinária.
Pena que um pequeno pormenor
não nos deixe um pouco de liberdade para fazermos o que fizemos hoje
em Seoul, capital da Coreia do Sul: tempo livre para irmos para onde nos apetece.
A
agricultura na Coreia do Norte, fez-me lembrar o Ribatejo da minha
infância: muita gente ocupada nas actividades rurais, em particular
nos arrozais, mas também no milho, etc.
E o que me trouxe à
memória o meu Ribatejo da infância foi a total ausência de
maquinaria, tudo é feito pelo braço dos homens e das mulheres.
Se
por um lado a ausência de máquinas pode contribuir para ausência
de desemprego, poderemos prever que a entrada desses meios na
actividade agrícola, poderá contribuir para esse flagelo.
Todos
nós temos na memória as imagens do desfile militar que ocorre todos
os anos na capital da Coreia do Norte: os militares a marchar de
forma muito rígida e muito certinha, com ritmo que só eles
conseguem.
Nesse desfile são também exibidos mísseis em cima
de veículos.
Este ano, e
pela
primeira vez, este evento não contou com a presença dos
mísseis.
Sinal
de
mudança? Talvez.
Pormenor:
mesmo
fora do período do desfile, não se pode circular a pé neste
espaço.
No
dia 20/9
(e
não 19, como já afirmei noutro espaço) fomos
visitar um museu (Exhibicion de Amistad Internacional), onde estão
expostas ofertas feitas por vários países ou entidades: e
lá constava um oferta de um grupo de Carcavelos, outra de um grupo
do Diário de Lisboa e também do marechal Costa Gomes.
Não
obstante existir linha de caminho de ferro, que liga as capitais da
Coreia do Norte (Pyongyang), e da Coreia do Sul (Seoul) em cerca de
duas horas, para o fazermos, tem de ser via Pequim, de avião, que
dura o dobro do tempo, sem contar com a espera, entre voos.
Esta
linha foi construida há cerca de 70 anos, mas mercê dos vários
conflitos, nunca chegou a estar activa.
Esta
linha passa nas proximidades do paralelo 38, que também visitámos,
e onde tirei fotografias que conto publicar, quando os meios
técnicos o permitirem - são só mais uns dias.
A
televisão na Coreia do Norte apenas transmite até cerca das 10
horas da noite.
As notícias são repetidas várias vezes.
Há
o canal Al Jazeera, mas apenas nos quartos do hotel para os turistas.
Nem os funcionários do hotel podem ver este canal.
E nos hotéis
não há sala de convívio com televisão: quem
entra, vai para o quarto e é lá que tem acesso.
Segundo
informação obtida na Coreia do Sul, aqui ficam dados sobre
diferenças salariais: na Coreia do Sul é de cerca de 30.000 dólares
anuais, enquanto na Coreia do Norte ronda apenas cerca de 1.200. É
muita a diferença. De qualquer modo esta informação foi obtida
através do guia da Coreia do Sul.