“Sangue, suor e... baterias”.
Com o título “Blood, Sweat and Batteries”, a Fortune dedica
11 páginas a reportar o que se passa numa mina de cobalto na República
Democrática do Congo, onde a extracção é feita por menores com idades entre os
11 e l6 anos, sem recurso a nenhum tipo de máquina e o mineral transportado às
costas dos miúdos até ao depósito onde se encontram especialistas chineses que
avaliam da sua pureza e pagam em função disso.
O cobalto é um componente
chave para as baterias que equipam telefones celulares e outros aparelhos
similares, assim como as baterias dos carros eléctricos, em crescendo por todo
o lado, o que levou o preço do cobalto a subir 400% em pouco tempo, prevendo-se
que vá continuar a subir, de acordo com a crescente procura.
Todavia, os miúdos que o arrancam da mina e transportam para
o local de armazenagem são miseravelmente pagos; confessou uma das crianças
que, num dia que corra bem, pode fazer o equivalente a 9 dólares, isto por doze
horas de trabalho duríssimo, o que torna tristemente irónico o subtítulo da
capa: “How to profit while fixing the planet”.
Estando esta riqueza num dos países mais pobres do mundo e
sob alçada do governo, também um dos mais corruptos do mundo, as populações
dessas terras só “beneficiam” das migalhas que lhes pagam pelo trabalho escravo
na sua exploração; para milhões de congoleses, sem água corrente nem
electricidade, a vida é cada vez mais dura e no ranking do desenvolvimento
humano este país está na posição 176, num total de 188 países.
E assim se continua a exaurir Àfrica, em favor de lideranças
locais corruptas e de exploradores estrangeiros, do que resulta o êxodo de multidões
desesperadas na direcção dos países desenvolvidos, na vaga esperança de que
lhes possa caber um pouco do que lhes tem sido roubado ao longo dos séculos...
Amândio G. Martins
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