sábado, 1 de setembro de 2018

Férias de verão


Férias de verão

31 AGO 2018 / 21:04 H.


    A maior parte dos portugueses, não gozam férias. Não porque não as desejam, mas apenas por impossibilidade de reunir as condições que permitem tê-las. Podem fazer de conta que beneficiam de tempos livres e calmos. Encher os dias vazios, com feriados e festas. Mas soa-lhes e sentem-nos sempre como feridas difíceis de aceitar e curar. Sombras não lhes faltam. A da árvore do jardim, que aguenta o pássaro, sacode o vento, e faz gemer o banco aonde repousam o sono e o olhar. Espreitam por entre as folhas e as ripas da vida, as farpas do salário roto com cheiro a mofo, de tão velho, que prendem no bolso da camisa gasta. Os dias com sol de alegria e de prazer, ficam longe. Aqui não chega o pó da areia brilhante e do sal. Estão para além do sonho e do mar. São dias feitos de tempo, caros, e doutras paragens com paisagens de pintor. Para lá chegar-lhes, é sempre preciso mais do que vontade e génio. É necessário, saúde e uma conta aberta que o trabalho incerto e mal pago, não permitiu pela vida fora, uma poupança, capaz de dela tirar agora, alguma felicidade. Hoje os dias são de sombra com uma luz entrecortada pelas folhas, quando abanam sobre as nossas cabeças, carregadas de pensamentos desiludidos. Aqui sentados, só nos resta ver passar os que partem esbranquiçados, a substituir os que chegam bronzeados. Ainda há os comboios sonolentos que restam. Erguendo o olhar podemos ter a sorte de ver um avião, a riscar o céu, deixando um rasto de fumo branco, que se apaga como o nosso desejo, ao fim de pouco tempo. É nesses momentos que percebemos que a ilusão existe. Vivam-na quem puder. Eu regresso à bisca lambida e sem trunfos para puxar e ganhar aos meus parceiros, também eles perdedores viciados, nesta mesa de pedra dura e quase sempre, fria!


    *-(pubcdo tb. Dtk-05.09)




    Sem comentários:

    Enviar um comentário

    Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

    Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.