O Governo apresentou o Orçamento de Estado (OE) para 2014, através da inefável ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque. Desde logo, parece-me crível que o que ocorreu hoje, ao fim do dia, é uma mera parte de um Orçamento de Estado. Na verdade, tendo em conta que 2013 comporta, até à data, um OE e duas retificações, não me parece sequer sério olhar para o documento e não pensarmos que será insuficiente e que carecerá de óbvias retificações, tal como os seus congéneres dos anos anteriores. Apesar disto, é natural entendermos que este primeiro documento traça, desde logo, a linha financeira do próximo ano.
Não obstante, o OE conduziu de imediato o país ao debate. Não o país propriamente dito, o da rua, o das pessoas que diariamente palmilham a sua vida, mas o país dos comentadores. E entre estes, surfam nas ondas mais altas os economistas. Estes têm aqui mais uma oportunidade de brilhar, através da discorrência de palavreado conjetural que desagua, inevitavelmente, no avaliamento de credores e devedores, nas alternativas e ausência destas, nas heranças e culpas próprias, nas causas e nos efeitos, nos investidores, nos mercados (claro), na criação de um ambiente saudável para as empresas, no cumprimento das regras, na dívida, etc. A mim interessa-me, todavia, uma palavra, várias vezes dita pela ministra na sua conferência: sacrifícios.
Um sacrifício é, na sua orientação epistemológica, um vocábulo vasto. Com efeito, existem sacrifícios que só com a própria morte se constroem. Por vezes, também se sacrificam animais. Presumo que o Governo e Maria Luís não ajuízam deste modo quando falam de sacrifícios. Dizem que o povo português é um grande povo, sereno, e que está, nesta fase da sua história, a fazer sacrifícios notáveis. Presumo que perder o emprego para toda a vida se enquadre legitimamente no âmbito sacrifical do Governo. É que a relação entre perder ad eternum o emprego e ficar diminuído de algumas concessões contratuais é demasiado óbvia e distante para ser enquadrada na mesma esfera semântica em torno da palavra sacrifício. Por isso, convém articular muito bem as palavras. Não a articulação física, sonora, pois a esta parece que nada há a apontar, mas sim articulação conteudística, aquela que faz a diferença entre o ser sério e o ser um mero bufarinheiro. Ou bufarinheira.
Este blogue foi criado em Janeiro de 2013, com o objectivo de reunir o maior número possível de leitores-escritores de cartas para jornais (cidadãos que enviam as suas cartas para os diferentes Espaços do Leitor). Ao visitante deste blogue, ainda não credenciado, que pretenda publicar aqui os seus textos, convidamo-lo a manifestar essa vontade em e-mail para: rodriguess.vozdagirafa@gmail.com. A resposta será rápida.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.