Em ditadura acabaram a Queima e em Democracia? Vale ser livre?
O ser humano toma, não poucas vezes, atitudes muito pouco condizentes com o
seu superior pensamento.
No Porto, entre 1969 e 1974 foi proibida pela Ditadura vigente, a
realização anual de qualquer festividade relacionada com a Queima as Fitas da
UP, dado que a última realizada ainda em ditadura em 1968, aqui no Porto, tinha
sido palco de manifestações antirregime, anti ditadura, antiguerra colonial. E
pela força da polícia de choque, tudo foi varrido e acabaram-se manifestações
de liberdade desejada. Quem se não lembra da última serenata no Palácio de
Justiça em 68? Tudo a fugir da polícia de choque! Nunca fui de “políticos”, mas
lembro-me!
Chegados à Democracia e à liberdade desejada, voltou a Queima à UP como uma
expressão de jubilo dos estudantes universitários, que em vários dias
envolveram familiares e restantes população, em alegria, num caminho de cada
estudante na sua vida ano após ano, na respectiva Faculdade.
E foi sendo uma semana de merecida diversão para um regresso aos estudos –
de imediato - para exames finais do ano lectivo.
Claro que estas semanas sempre foram – para quem nelas participou – um
tempo de alguns pequenos excessos e talvez alguns possíveis exageros, mas terão
sido tempos de memórias, que não voltam.
Progressivamente foi-se criando muito negócio em função da Queima. E a
necessidade de excessos alcoólicos. Estes, visíveis seja qual for a legislação
- e nada tendo a ver com a Queima - em miudagem de 12 e 13 anos na Baixa do
Porto aos fins de semana! Preparar o futuro? Será?
Por certo, que a maioria dos estudantes universitários que participaram e
participam na Queima o fazem para passar bem um tempo que lhes marca a vida e
não unicamente para estarem no limite do descontrolo, ou da criação de negócios
que não são, a Queima!
Dito isto, será por certo tema de reflexão para muitos e muitos jovens que
participarão em futuras Queimas, qual o significado concreto dessa semana.
E isto em função do que se passou em 2013, quando um estudante participante
activo é “assassinado” a trabalhar de borla para a Queima e a mesma não acaba
nesse dia, ou no mínimo não é suspensa, por um a dois dias. Como se faz o
cortejo e o enterro no mesmo dia? Como se regam estudantes na borga, com álcool?
Como?
Que raio de tempo estamos a viver em que ser assassinado nas condições em
que foi “um dos nossos”- não foi morte natural, não foi acidente, não foi….– é
algo que se esquece continuando a festa e a bebedeira?
E com que “alma” podemos criticar o fim decretado da Queima do Porto a
partir de 1969 pela Ditadura por motivos políticos, quando em 2013 em
Democracia a mesma continua - em liberdade – quando é morto, não por política
um dos “nossos” e esquece-se com tanta facilidade e se continua a festa pela
festa, com tanta festa?
De facto “isto vai mal” , mas não são só os “outros” que vão mal, somos
“nós, todos nós, o problema”! E então? Não nos queixemos!
Augusto Küttner de Magalhães
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