segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O império da ganância
É urgente injectar na sociedade um produto que desapareceu da circulação, ou que aparece em doses tão pouco significativas, que é preciso estar muito atento para ver esse sinal. Esse componente, que devia estar sempre presente nas relações humanas, e que se tornou avis rarus, é a bondade. Como a vida é uma luta permanente pela sobrevivência, num embate entre o egoísmo e a Fraternidade, o egoísmo venceu, e a Fraternidade vencida teve de fazer algumas cedências e, entre estas, deixou cair a bondade, que é um componente relevante na relação entre as pessoas. A ganância, como não tem limites, estendeu-se por todas as áreas da sociedade e, sem escrúpulos como é de sua própria essência, vai amarfanhando tudo à sua volta recrutando agentes que, não há muito tempo, pensaríamos ser impossível a sua adesão à deusa. Para atingir os seus fins, servindo-se das mais sofisticadas ferramentas tecnológicas, utiliza todos os meios possíveis para corromper os que se lhe opõem, utilizando a chantagem quando não foi possível outro expediente.
Quando a comunicação social, também grande parte dela parcial para garantir a sobrevivência, nos relata certas decisões judiciais, desde o arquivamento de processos em que os eventuais arguidos são figuras intocáveis, por poderosas, sejam elas na área económica ou na política, ou sentenças de 4 anos com penas suspensas, quando não há muitas décadas, partir de 24 meses era prisão maior a cumprir em penitenciárias. Quando um ladrão desgraçado rouba a reforma à velhota, à porta dos CTT e, de imediato, é preso e julgado, e os que roubam milhares de reformas e de poupanças, aos mais diversos cidadãos, continuam à solta, tudo vai mal no “Reino da Dinamarca”. Isto explica-se porque se levam muitos anos até serem concluídos os processos e, nalgumas situações duvidosas, nem sequer se abrem inquéritos. As coisas estão montadas para ser difícil tocar numa casta de intocáveis, que nada tem a ver com a “casta indiana”, que era a mais baixa na escala social, porque esta o é por situação oposta, ou seja, está nos píncaros da sociedade. Por detrás de tudo isto tem de estar um estratagema de privilégios que alguns disfrutam, em prejuízo daqueles a quem são denegados os seus legítimos direitos. Trouxemos estes exemplos da administração da Justiça, mas os erros estão em muitos outros serviços, sejam na Educação, na Saúde ou na Segurança. Como há um século, dizia António Sérgio, é preciso reformar as mentalidades. Bom é dizer, mas tal como na história dos ratos, quem é que põe o guizo ao gato?
 É preciso agir de imediato, e não percorrer o tempo a encontrar grandes desculpas para o estado a que este país chegou, igual a outros mais nesta dita civilização ocidental, porque nem só a ganância explica o comprar e o vender de tantas consciências. É urgente encontrar o AMOR, como nos disse o poeta Daniel Filipe, mas um amor ao próximo, um AMOR IMPREGNADO DE BONDADE. É urgente derrotar o império da ganância. É urgente encontrar a PAZ nas consciências. É urgente viver.

Joaquim Carreira Tapadinhas – Montijo 

2 comentários:

  1. trabalhemos para uma sociedade onde o amor seja mais forte que o medo e onde a bondade não seja disparate.

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  2. A bondade nunca pode ser disparate e se num gesto bondoso há disparate, esse está no outro a quem o gesto foi dirigido.

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