O império da ganância
É urgente injectar na sociedade
um produto que desapareceu da circulação, ou que aparece em doses tão pouco
significativas, que é preciso estar muito atento para ver esse sinal. Esse
componente, que devia estar sempre presente nas relações humanas, e que se
tornou avis rarus, é a bondade. Como
a vida é uma luta permanente pela sobrevivência, num embate entre o egoísmo e a
Fraternidade, o egoísmo venceu, e a Fraternidade vencida teve de fazer algumas
cedências e, entre estas, deixou cair a bondade,
que é um componente relevante na relação entre as pessoas. A ganância, como não
tem limites, estendeu-se por todas as áreas da sociedade e, sem escrúpulos como
é de sua própria essência, vai amarfanhando tudo à sua volta recrutando agentes
que, não há muito tempo, pensaríamos ser impossível a sua adesão à deusa. Para
atingir os seus fins, servindo-se das mais sofisticadas ferramentas
tecnológicas, utiliza todos os meios possíveis para corromper os que se lhe
opõem, utilizando a chantagem quando não foi possível outro expediente.
Quando a comunicação social,
também grande parte dela parcial para garantir a sobrevivência, nos relata
certas decisões judiciais, desde o arquivamento de processos em que os
eventuais arguidos são figuras intocáveis, por poderosas, sejam elas na área
económica ou na política, ou sentenças de 4 anos com penas suspensas, quando
não há muitas décadas, partir de 24 meses era prisão maior a cumprir em
penitenciárias. Quando um ladrão desgraçado rouba a reforma à velhota, à porta
dos CTT e, de imediato, é preso e julgado, e os que roubam milhares de reformas
e de poupanças, aos mais diversos cidadãos, continuam à solta, tudo vai mal no
“Reino da Dinamarca”. Isto explica-se porque se levam muitos anos até serem
concluídos os processos e, nalgumas situações duvidosas, nem sequer se abrem
inquéritos. As coisas estão montadas para ser difícil tocar numa casta de
intocáveis, que nada tem a ver com a “casta indiana”, que era a mais baixa na
escala social, porque esta o é por situação oposta, ou seja, está nos píncaros
da sociedade. Por detrás de tudo isto tem de estar um estratagema de
privilégios que alguns disfrutam, em prejuízo daqueles a quem são denegados os
seus legítimos direitos. Trouxemos estes exemplos da administração da Justiça,
mas os erros estão em muitos outros serviços, sejam na Educação, na Saúde ou na
Segurança. Como há um século, dizia António Sérgio, é preciso reformar as
mentalidades. Bom é dizer, mas tal como na história dos ratos, quem é que põe o
guizo ao gato?
É preciso agir de imediato, e não percorrer o
tempo a encontrar grandes desculpas para o estado a que este país chegou, igual
a outros mais nesta dita civilização ocidental, porque nem só a ganância
explica o comprar e o vender de tantas consciências. É urgente encontrar o
AMOR, como nos disse o poeta Daniel Filipe, mas um amor ao próximo, um AMOR
IMPREGNADO DE BONDADE. É urgente derrotar o império da ganância. É urgente
encontrar a PAZ nas consciências. É urgente viver.
Joaquim Carreira Tapadinhas – Montijo
trabalhemos para uma sociedade onde o amor seja mais forte que o medo e onde a bondade não seja disparate.
ResponderEliminarA bondade nunca pode ser disparate e se num gesto bondoso há disparate, esse está no outro a quem o gesto foi dirigido.
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