quinta-feira, 21 de novembro de 2013

em 'O Livro em Branco' - 16 (continuação - pág. 25 a 28)



A

     ONTEM

T

E

HOJE

N

T

                               SEMENTE DA ALMA

M

 

         1 anteontem,

castelos de desejos, 

jardins em flor …

meus sonhos de criança

acabaram!

 

ontem,

castelos de nuvens,

ornados de bruma …

meus sonhos de adolescente

partiram!

 

hoje,

            castelos que são masmorras,

decorados de tormentas …

meus sonhos de homem

não existem!

 

   2 anteontem,

      a chama do fogo,

      a ponta do cigarro …

      a cinza não era cinza.

 

      ontem,

      a chama do fogo,

      a ponta do cigarro …

      um ponto rubro sem cinza.

 

      hoje,

            a chama sem vida,

            a ponta do cigarro …

            a cinza levada,

            espalhada e perdida

            nas ondas do vento.

 

         3 anteontem,

            não te vi,

            meus passos errados …

            o caminho perdido.

 

            ontem,

            eras tudo que procurava …

            meus passos cansados,

            o caminho clarão.

 

            hoje,

            te procurei …

correntes tolhendo passos,

o caminho espera-me,

não posso caminhar.

 

         4 anteontem,

um bazar de promessas.

 

ontem,

não senti esperança …

promessas quebradas.

 

hoje,

desejos baratos …

abutres famintos,

brancas pombas.

 

tréguas mesquinhas,

pão forjado,

os nossos dias.

 
Nota – poema gerado e nascido em terras africanas durante a minha participação ‘voluntária’ na guerra colonial, em 1966/68.

 

José Amaral

 

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