Só estudei de dia até à quarta-classe, o fim do bem estruturado
Ensino Primário, dos tempos ancestrais do Estado Novo, em que o meu mestre-escola,
Mário Meireles Botelho, a todos os alunos tentava fazer empinar o que deveríamos
aprender, através da nodular cana-da-índia, da régua, que mais parecia uma
ripa, e da pesadíssima ‘menina-de-cinco-olhos’, que com mestria tão bem as
manejava nas nossas cabeças, orelhas e mãos.
De noite, depois do trabalho até cerca das 19 horas, estudei
em duas escolas comerciais, nas quais obtive diplomas finais, complementares um
ao outro, com algum bom mérito e saber, e, por isso, fiquei isento de pagar
propinas em muitos dos anos frequentados.
Comecei cedo a trabalhar para fazer face à minha permanência
na cidade do Porto, uma vez que à referida cidade cheguei, corria o ano de
1957.
Veio a vida militar, e lá rumei ao Ultramar em guerra. E na
Guiné me aguentei durante dois seculares anos.
Lá colaborei para o jornal do batalhão – O PADRÃO -, no qual
me publicaram alguns poemas, o que já fazia anteriormente para o CANTINHO DO
DOURO – boletim das paróquias da Folgosa e do Vacalar, do concelho de Armamar,
estávamos em 1965.
Regressei do ‘ex-Vietname português’, em agosto de 1968.
Em 1969 casei, e, nesse mesmo ano, ingressei no desaparecido
Banco Português do Atlântico.
Vieram os filhos, três, chegaram os netos, também três. Muitas
alegrias e alguns pesadelos.
Só há poucos anos é que deixei de sonhar – ter o pesadelo – que
estava a ser novamente mobilizado, e logo para a Guiné.
E, depois de alguns encontros anuais com os antigos
camaradas de armas, agora, encontro-me anualmente com novos camaradas, armados
apenas de uma caneta, os quais todos os dias com ela pelejam, apontando letras
e mais letras, quase de rajada, formando carregadores de palavras, que encarnam
o que nos vai na alma, com muita indignação à mistura e uma também contemplação
sobre o que vai bem e o muito que vai mal no ‘reino’ de Portugal, em
particular, e no mundo, em geral.
Até outra confissão.
José Amaral
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