Sempre fui um coleccionador de ninharias. Desde o preencher
cadernetas com cromos de jogadores, de bandeiras, de aves, de uniformes; até de
calendários de bolso.
Depois coleccionei porta-chaves, moedas comemorativas e
algumas notas, nacionais e estrangeiras.
Moedas e notas restam muito poucas; o restante, uma ‘filoxera’
tudo levou.
Também gosto de livros. E tenho alguns. Algumas centenas; e
muitos deles postados em segunda fila, por falta de espaço. Tenho também
jornais antigos e do tempo do já esquecido – para alguns - 25 de Abril.
Na minha pequena grande toca já sinto o cansaço do tempo
percorrido. E as paredes têm livros, mais cinco quadros, dois diplomas que
muito me custaram a obter, e um crucifixo já muito antigo, dos tempos dos meus
egrégios avós. E mais algumas coisas tenho, cujo valor são a lembrança e a
saudade do que se foi na bruma dos tempos, com algumas réstias de sol de algum contentamento
vivido.
Os livros e tudo o mais que me rodeia nesta minha
existencial toca escudam-me de muitos rumores externos, apesar de eles mesmo
encerrarem páginas com o troar de guerras infindas, amores tormentosos e
intrigas mil, eivados de poemas de amor e também de muita dor.
E não é que já há uns tempos que comecei a coleccionar recortes
de fotografias de pessoas falecidas vindas na página de necrologia dos jornais?
São de pessoas amigas, familiares, antigos colegas de trabalho, velhos
camaradas de armas, vizinhos, enfim, olho para eles e chego à conclusão que são
uma parte de mim que partiu, sem regresso.
E só nessa altura é que chego à conclusão que muito tempo
por mim já passou e que, entretanto, muitas pérolas eu perdi, as quais ficaram,
inexoravelmente, fora da minha colecção.
José Amaral
bonito texto. Não existe o «nada»...
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