Em 2012, o JN
publicou esta carta (com muitíssimos cortes) que aproveito para vos dar a
conhecer hoje e na integra, Dia Nacional
do Dador de Sangue e pelo facto do blogue A Voz da Girafa ainda não se fazia
ouvir naquela época. Infelizmente, li hoje na imprensa, que as dádivas caiem em
flecha há cinco anos.
“Todas as pessoas que praticam o gesto solidário de dar
sangue, merecem o respeito e gratidão de todos. Não falo por mim, pois nunca
fui dador. Quando se iniciaram nessa nobre missão, era a troco de nada. Mais
tarde, sem nada pedirem, alguém se lembrou de oferecer uma prova de
reconhecimento, salvo erro, um cartão de dador que lhes facultava a entrada nos
hospitais para poderem fazer visitas sem estar à espera de vez. Muito mais
tarde, a oferta foi de os isentar das taxas moderadoras. Dizem que o sangue não
se vende, dá-se. Os próprios dadores, sabem-no melhor do que ninguém sendo
ofensivo lembrar-lhes isso, mas não é justo serem-lhe retiradas aquelas
ofertas. Desde que o senhor Ministro da Saúde teve a infeliz ideia de
tirar-lhes estas regalias, ando para escrever sobre o assunto, mas na esperança
que o bom senso o visitasse, fui adiando esta missiva pois estávamos perante um
assunto que devia ser tratado com pinças e de luvas hospitalares, mas
infelizmente foi tratado a bisturi. Chegamos, como era fácil de prever, à
situação de roturas de stocks, cirurgias adiadas, e qualquer dia, falecimentos.
Resta-nos a importação de sangue, solução muito mais onerosa que a restituição
da isenção das taxas moderadoras aos dadores. Bem sei que o responsável, sendo
oriundo da banca, onde os genes não se compadecem de ninguém, são arrogantes e
prepotentes, bastando-lhes, quando têm necessidade, alterar as tabelas. Ainda
agora, acabei de receber a última e até pensei tratar-se da lista de preços de
algum restaurante três estrelas do Guia Michelin. Quem lhe escreve, senhor
Ministro, apenas frequenta a universidade da vida, sem créditos do Processo de
Bolonha, apenas com o processo de ter Vergonha e todos os dias, continuo a ter
aulas práticas. Ainda hoje, no supermercado, uma senhora idosa à minha frente,
perguntou à funcionária da caixa em quanto já ia a conta. Como ultrapassava as
suas posses, envergonhada, pediu para retirar três artigos senhor Ministro. O
senhor não tem destas aulas pois deve fazer as compras pela internet ou alguma
loja gourmet, onde nunca tem que ser retirado qualquer artigo. Já agora e para
terminar, permita-me que lhe dê uma aula. O senhor foi nomeado, entre outras
coisas, para tratar da saúde do povo. Por amor de Deus, não queira que seja o
povo a tratar-lhe da sua. Pense bem.
Jorge Morais"
Sem comentários:
Enviar um comentário
Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.