domingo, 27 de março de 2016

DADORES INJUSTIÇADOS



Em 2012, o JN publicou esta carta (com muitíssimos cortes) que aproveito para vos dar a conhecer hoje e na integra,  Dia Nacional do Dador de Sangue e pelo facto do blogue A Voz da Girafa ainda não se fazia ouvir naquela época. Infelizmente, li hoje na imprensa, que as dádivas caiem em flecha há cinco anos.


“Todas as pessoas que praticam o gesto solidário de dar sangue, merecem o respeito e gratidão de todos. Não falo por mim, pois nunca fui dador. Quando se iniciaram nessa nobre missão, era a troco de nada. Mais tarde, sem nada pedirem, alguém se lembrou de oferecer uma prova de reconhecimento, salvo erro, um cartão de dador que lhes facultava a entrada nos hospitais para poderem fazer visitas sem estar à espera de vez. Muito mais tarde, a oferta foi de os isentar das taxas moderadoras. Dizem que o sangue não se vende, dá-se. Os próprios dadores, sabem-no melhor do que ninguém sendo ofensivo lembrar-lhes isso, mas não é justo serem-lhe retiradas aquelas ofertas. Desde que o senhor Ministro da Saúde teve a infeliz ideia de tirar-lhes estas regalias, ando para escrever sobre o assunto, mas na esperança que o bom senso o visitasse, fui adiando esta missiva pois estávamos perante um assunto que devia ser tratado com pinças e de luvas hospitalares, mas infelizmente foi tratado a bisturi. Chegamos, como era fácil de prever, à situação de roturas de stocks, cirurgias adiadas, e qualquer dia, falecimentos. Resta-nos a importação de sangue, solução muito mais onerosa que a restituição da isenção das taxas moderadoras aos dadores. Bem sei que o responsável, sendo oriundo da banca, onde os genes não se compadecem de ninguém, são arrogantes e prepotentes, bastando-lhes, quando têm necessidade, alterar as tabelas. Ainda agora, acabei de receber a última e até pensei tratar-se da lista de preços de algum restaurante três estrelas do Guia Michelin. Quem lhe escreve, senhor Ministro, apenas frequenta a universidade da vida, sem créditos do Processo de Bolonha, apenas com o processo de ter Vergonha e todos os dias, continuo a ter aulas práticas. Ainda hoje, no supermercado, uma senhora idosa à minha frente, perguntou à funcionária da caixa em quanto já ia a conta. Como ultrapassava as suas posses, envergonhada, pediu para retirar três artigos senhor Ministro. O senhor não tem destas aulas pois deve fazer as compras pela internet ou alguma loja gourmet, onde nunca tem que ser retirado qualquer artigo. Já agora e para terminar, permita-me que lhe dê uma aula. O senhor foi nomeado, entre outras coisas, para tratar da saúde do povo. Por amor de Deus, não queira que seja o povo a tratar-lhe da sua. Pense bem. 
Jorge Morais"

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