terça-feira, 22 de março de 2016

MAIS LUCIDEZ

                                                       UM COMBATE PERMANENTE

Apesar dos embustes das “civilizações”, todos os dias se nos deparam situações demonstrativas de que poucas coisas mudam para melhor, e só temporariamente. E aqueles que se vêem a si próprios como superiores, só muito dificilmente, às vezes só mesmo à força, aceitam perder algumas das “suas” prerrogativas.
O fanfarrão Golias, “invencível” herói dos filisteus, sentiu-se ofendido quando viu o pequeno David desafiá-lo, desarmado, e ameaçou-o com um rol de impropérios. E foi sempre assim, ao longo dos tempos, que os presumidos poderosos se impuseram às multidões de miseráveis que têm povoado o mundo.Mas estas, quando descobrem que a sua força lhes advém disso mesmo, de não terem nada a perder, tomam atitudes, muitas vezes individuais, que, naquele momento, mudam mesmo o mundo para melhor.
E se na “lenda” em que David derruba Golias com uma pedrada na testa terá havido intervenção divina, é de supor que em tantas outras situações inusitadas que a História nos relata a terá havido também…
Na atitude daquela modesta trabalhadora de Montgomery – Alabama, em 1955, naquela manhã em que decidiu sentar-se, no transporte público, no lugar que muito bem entendeu, recusando-se a cedê-lo a um branco quando a isso foi intimada, naquela recusa do medo aos poderosos que a humilhavam e aos da sua raça, é de crer que também houve inspiração divina.
Mas quando perdem um pouco que seja do seu poder ilegítimo, eles nunca se conformam; manobram de todas as formas para recuperar a posição perdida, comprando muitas vezes até a consciência de serventuários recrutados nas classes que oprimem.
Costumo ver o programa GPS, de Fareed Zacaria, que passa na RTP 3 aos domingos ao fim da tarde. No mais recente, entre os vários entrevistados por Fareed estava o artista Harry Belafonte, velho companheiro de Luther King na luta pelos direitos cívicos, com uma lucidez espantosa para a idade
À pergunta de Fareed, se não lhe parecia que os negros americanos não ganharam nada com um negro na presidência dos Estados Unidos, Belafonte concordou, afirmando que aquela eleição deixou em estado de choque as forças que nunca mudam para melhor, e não imaginavam que uma coisa daquelas pudesse acontecer, facto que as levou a comportamentos de retaliação!

                                             Amândio G. Martins


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