Foices e martelos...
Tendo nascido e crescido numa aldeia, sempre lidei com
foices e martelos de vários tamanhos e feitios; por isso, divertiu-me mais do
que me assustou, tanto mais que lhes ignorava completamente o significado
político, aquela arenga dramática que um salazarista da vila, em campanha por
Américo Tomás, despejava perante aldeões boquiabertos, à saída da missa
dominical, pretendendo dissuadí-los de votar em Humberto Delgado.
“A vossa obrigação de cristãos católicos, tementes a Deus, é
votar em Sua Excelência o senhor presidente Américo Tomás, um verdadeiro
cristão, um grande homem, que só o nome já diz tudo: Américo de Deus... E que
Deus nos defenda de ganhar o comunista; ficaremos debaixo
de foices e martelos!
Sendo a foice e o martelo o pesadelo dos fascistas, os
jornais da situação não perdiam oportunidade de fazer humor com tal bandeira,
como agora verifiquei com alguma surpresa quando, ao sacudir um livro que uma
pessoa aqui de visita mostrou interesse em ler - justamente para que não levasse nada de mais
pessoal, coisas que encontro com frequência quando compro livros no
alfarrabista - caíu lá de dentro o cartoon que anexo.
E surpreendido porque, tendo comprado esse livro – “O Pavilhão
dos Cancerosos”, de Soljenitsine - em
Lisboa, em 1970, logo que a “D. Quixote” o pôs à venda, pouco depois mudei-me
para a área do Porto, onde o meu jornal diário passou a ser o JN; por outro
lado “O Século”, onde o desenho saíu, em 1972, nunca foi o “meu” jornal; enfim, fiquei a dar voltas à cabeça, se mais
alguém entretanto terá lido o livro e usou o recorte para marcar a página onde
interrompia a leitura, mas ainda não decifrei este “mistério”...
Amândio G. Martins
Uma pequena história mas daquelas que eu gosto porque é "mágica"...
ResponderEliminarE eu também gostei que tivesse gostado...
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