Eu sei que por estes dias as redes sociais e afins vão estar
"infestadas" de publicações da mais variada proveniência sobre o 25
de Abril, a Revolução, os sonhos, as desilusões .
Não vou tecer considerações sobre isso, nem que fazer
quaisquer juízos de valor, em primeiro lugar porque não tenho esse direito e em
segundo lugar porque o que verdadeiramente me preocupa não é esta súbita febre
democrática que vai durar dois dias e como as viroses dos miúdos, ao fim do
terceiro dia está curada, esquecida e arrumada.
O que verdadeiramente me preocupa é saber que esta Europa
onde estamos inseridos, conseguiu a proeza de em dois anos, fazer aparecer 35
milhões de novos pobres.
Sabiam?
E o que me inquieta mesmo é a noção clara que tenho,
cristalina como agua de ribeiro em plena serra, que o aumento desmesurado das
desigualdades e a democracia são antagónicos e a Europa tem que rapidamente
decidir o que pretende - ser pobre, ou investir verdadeiramente nos valores que
fazem as democracias nascerem, crescerem e progredirem.
Esses valores são simples - justiça social, igualdade de
oportunidade, criação de riqueza, solidariedade ( não caridade ), ou se quiser
ser curta e grossa, que as Pessoas sejam tratadas como Pessoas, que sejam
consideradas a maior riqueza dos países e não um NIF, como são atualmente e que
a Dignidade tenha níveis equilibrados abaixo dos quais não podemos permitir que
se viva.
Enquanto forem as questões económicas e não as pessoas a
prioridade dos países europeus, a democracia, na sua essência estará condenada.
Enquanto as Pessoas valerem menos que o lucro e os jogos das
economias, estaremos a assistir a uma total inversão dos valores que estiveram
na base da revolução de Abril.
Sem falar directamente de Abril e dos 40 anos que amanhã se
comemoram, acabei por lá parar.
Não direi que foram 40 anos perdidos, mas foram 40 anos
muito desperdiçados e o resultado está à vista - aumento da pobreza, aumento
das assimetrias sociais, aumento da hipocrisia, liberdade, apenas de pensamento
e de expressão e mesmo assim, vamos ver até quando...
Provavelmente até nos deixarmos...
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