Leio o DN de 6 de fevereiro e "passo os olhos" pela página 47, onde se escreve sobre o primeiro CD de Cantigas d`Amigos de canto, récita e poesia medieval, gravado em 1971 por Amália, com Natália Correia e Ary dos Santos. Excelente notícia para quem foi admirador destas três figuras maiores da nossa cultura do século xx. Ainda em ditadura, corria o ano de 1969, tive a "sorte" de conheçer Natália Correia e o poeta Ary dos Santos numa sessão de esclarecimento promovida pela oposição (CDE) ao regime de então. Apesar da chamada "primavera Marcelista", a repressão e o medo"imperavam (...). Porém, em muitos dos presentes naquela sala (em Odivelas), a coragem e a vontade de conheçer e ouvir a poetisa e o poeta falarem-nos de justiça e de liberdade foram mais fortes do que o medo. Daí nunca esqueçer aquele dia e aquele momento em que Ary dos Santos tomou a palavra e recitou o poema, a sigla: (...)" SARL, SARL/A pança do patrão não lhe cabe na pele/A mulher do gerente não lhe cabe na cama/SARL,SARL/ O cabedal estoira/ Eo capital derrama(...)" Aquele poema dito pelo poeta da voz poderosa e solidária provocou uma enorme onda de aplausos por parte dos presentes (já cheirava a liberdade naquela sala) . Claro que a sessão acabou naquele momento inesquecível com a intervenção da GNR, que se encontrava á porta desde o início á espera de ordens para intervir. Este era o homem, o poeta militante de antes e depois de Abril/74, do PCP, e que um dia escreveu: "Serei tudo o que disserem/ Poeta castrado não! ". Escrevi estas palavras porque julgo que Ary dos Santos mereçe este reparo/homenagem.
Texto de Arlindo, publicado no DN em 11 de fevereiro de 2012
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