Cada cavadela, uma minhoca. De há
uns anos a esta parte, sempre que o Governo se dirige aos portugueses, ou quase
sempre, é para anunciar a criação de novos impostos, directos ou indirectos, ou
a redução de rendimentos, seja de ordenados ou de reformas, o que contribui
para aumentar o número de pessoas em extrema dificuldade que, já em 2013,
atingia cerca de 2 milhões. Isto parece não incomodar minimamente os nossos
governantes, que, mesmo perante um tal cenário de miséria, têm quase sempre um
sorriso latente quando aparecem nos écrans, ou quando na oposição surgem as
contestações.
Em Portugal, as bebidas que têm
açúcar na sua composição, já têm uma taxa de IVA de 23%, quando na Espanha, e
noutros países, pagam 10% e na Bélgica 6%. Não se percebe como é possível querer
onerá-los com mais impostos, que começam a ser sufocantes. Os países referidos
têm um nível de vida superior ao nosso, desde um salário mínimo mais alto, aos
apoios familiares, especialmente nos abonos às crianças. Os impostos sobre o
consumo são dirigidos a todos de igual modo, mas, os que têm mais fracos
rendimentos, são muito mais afectados.
Deixemos o possível e anunciado
imposto sobre os produtos com excesso de sal, que nos lembra a Idade Média, e
assentemos a nossa atenção sobre uma taxa a criar sobre produtos que façam mal
à saúde, fabricados por laboratórios ou empresas de produtos alimentares. É de
estarrecer! Se um produto faz mal à saúde, deve ser proibido, e não onerado com
impostos. Ao proceder desta forma o Estado torna-se conivente na propagação dos
males que daí possam advir e deixa de ser pessoa de bem, por falta de escrúpulo.
Se os medicamentos e os alimentos fazem mal à saúde, mais tarde ou mais cedo,
os pacientes têm de ser tratados e os encargos, suportados por todos nós, serão
normalmente superiores aos impostos arrecadados, para além da imoralidade que
tudo isto representa.
Para justificar o injustificável,
um secretário de Estado da área da Saúde, vem fazer comparações com a Dinamarca
e a Finlândia, onde se pagam impostos sobre tais consumos, como se as economias
fossem comparáveis. Diz-se ainda, com o maior descoco, que os novos impostos
têm como objectivo melhorar os hábitos de consumo das pessoas, e isto, conforme
se pode constatar, num período em que muita gente está a perder o hábito de se
alimentar.
Nós sentimos que Portugal deixou
de ser um país soberano e, que cada dia que passa, vivendo de directivas da EU
e do sobe-e-desce dos Mercados Financeiros, vai perdendo a autonomia e a capacidade
de se autodisciplinar. Mas isso não é impeditivo, que dentro da nesga de
esperança que ainda temos, possamos alimentar a fé de que esta situação é
passageira, e de que, após os dias negros que vivemos, venha a surgir uma
madrugada redentora e perene.
(
Público, 21-4-2014)
Joaquim Carreira Tapadinhas,
Montijo
Publicado no jornal "Público, de hoje, 21.04.2014.
ResponderEliminarAlguns amigos da Voz da Girafa têm direito a meia página do jornal Público. Parabens!
ResponderEliminarQuando nós, que estamos no mesmo lado da barreira, temos ressentimentos sobre a atenção que os jornais dedicam a este ou aquele, está tudo perdido e a esperança morreu ao sétimo dia. Não conheço ninguém no Público, nem é do meu DNA entrar por caminhos ínvios. É o mundo que temos, e ninguém é perfeito. Um abraço para todos os que lutam, com amor pelo próximo, por um mundo melhor.
ResponderEliminarOlhe que eu estava a brincar, não tenho qq ressentimento. É raro o Publico aceitar textos tão extensos excepto o Fraga que tem página no lugar da opinião.
ResponderEliminarContinue. Eu continuarei também. Do mesmo lado.