Pensando sobre o espaço para a opinião pública,
ocorre-me:
Em casa com os amigos, nas redes sociais, na rua, e
nos meios de comunicação.
Em casa com os amigos, a opinião, a ideia, a
proposta, funcionam como um desabafo entre pessoas, que mesmo pensando
diferente, têm uma identidade comum: a amizade. Podemos fazer a catarse do que
atormenta a alma, mas não mudamos o mundo, porque o mundo dos nossos amigos é o
nosso mundo.
Nas redes sociais, alargamos o desabafo aos amigos
e aos amigos dos amigos e a simples conhecidos que por circunstância, aceitámos
na rede. Os tormentos da alma esbatem-se, porque nas redes já se misturam
muitos interesses pessoais e objectivos de utilização e presença com fins muito
diversos. Por aí não me parece que mudemos o mundo. Ficamos mais expostos a mal-entendidos
e eventualmente colecionamos umas dezenas de “likes” o que pelo menos reconforta o ego.
Na rua, podemos gritar, podemos pintar a cara,
mostrar cartazes com frases que julgamos magníficas , redondas, a abarrotar de significado e força, mas temos
que ser muitos e muitos e estarmos todos juntos e ao mesmo tempo, para que o
ruído dos carros não se sobreponha.
Se o fazemos sózinhos corremos o risco de uma
insanidade prontamente avaliada pelas forças da autoridade, e viver o ridículo
da tentativa falhada de uma acção de revolta que vai dar no nada da compaixão
dos outros, dos transeuntes alinhados na
cabeça e na roupa que trazem vestida,
que simplesmente ignoram, por cobardia ou ignorância as nossas dificuldades.
Cada um com as suas, cada um por si, resolvidos os
meus problemas, estão resolvidos os problemas do mundo.
Se formos muitos, já podemos começar a pensar que é
possivel mudar o mundo. E se formos muitos e com boas ideias, bem pensadas e
animados de uma vontade colectiva forte para serem discutidas, sufragadas e
eventualmente consideradas como bons caminhos para a resolução de problemas,
aí, mudar o mundo faz todo o sentido.
Nos meios de comunicação, a palavra escrita,
perdura, fica registada, não se desvanece ao vento. É uma boa ajuda para
reforçar a opção anterior.
Os jornais, revistas, canais televisivos, radios e
outros, estão lotados e à cunha (e
subscrevo todos os significados desta palavra), preenchidos pelos mesmos rostos
assenhoreados de um espaço que deveria estar mais disponível para as pessoas.
Aí lançam a verborreia panfletária,
enviam recados de interpostas pessoas, manipulam as cabeças, incendeiam ainda mais a fogueira das suas
vaidades, que os consome sem que o saibam, ou de que tenham Saber.
Tudo isto para dizer que não acredito que se possa
mudar o mundo, mas pode-se viver num mundo melhor, generalizando esse estado
qualitativo ao maior número possível de pessoas.
E se eu pudesse mudar o mundo, não o quereria fazer
sózinho, nem tão sómente rodeado dos engraxadores de sapatos (sem ofensa pela
profissão) – que é o mesmo que ir sózinho.
Arranja-se por aí, espaço de opinião pública para
todos nós?
Luis Robalo
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