As Conferências do Casino ou Conferências Democráticas
realizaram-se em Lisboa, de 22/5 a 19/6/1871, no Casino Lisbonense.
Promoveu-as o Grupo Cultural do Cenáculo, chefiado por
Antero de Quental, que se fixara na capital em 1868, e tinham por objetivo tratar
‘as grandes questões contemporâneas, religiosas, políticas e sociais,
literárias e científicas …. com realismo’.
Após a 5ª conferência, o prosseguimento do ciclo – estavam
anunciadas mais cinco conferências – foi cancelado por ordem governamental, apoiada
no pensamento conservador para a época.
Agora, reportando-nos ao presente, em que estamos quase a
chutar com a troica de cá para fora, vamos tentar transportar para a atualidade,
numa curtíssima síntese, o discurso sobre as ‘causas da decadência dos povos
peninsulares nos últimos quatro séculos’, pronunciado na noite de 27/5/1871, na
sala do referido Casino Lisbonense, mas transportado tal dialética apenas no
que respeita somente a Portugal:
Meus Senhores:
A decadência do povo Português nos últimos quatro séculos é
um dos factos mais incontestáveis e mais evidentes da nossa história. E pode
até dizer-se que essa decadência, seguindo-se quase sem transição a um período
de força gloriosa e de rica originalidade, é o único grande facto evidente e
incontestável que na história aparece aos olhos do historiador num olhar não
meramente filosófico.
E se não reconhecermos e confessarmos francamente os nossos
erros passados, como poderemos aspirar a uma emenda sincera e definitiva no
presente?
Façamos pois o um ato de contrição pelos nossos pecados
históricos, porque só assim nos poderemos emendar e regenerar.
Quando estivemos no período de transição para encetarmos a
plena adesão ao Mercado Comum – Comunidade Económica Europeia – recebemos
chorudas comparticipações a fundo perdido, a fim de nesse curto período
transitório nos apresentássemos ‘up to date’ para consumarmos o embate final da
citada plena adesão, pelo que parece-nos já ser altura de emendarmos
definitivamente os erros ancestralmente cometidos, não diremos deliberadamente,
mas se novamente não os evitarmos, diremos que, de facto, mais nada sabemos
fazer senão cavar definitivamente a sepultura da nossa completa anulação
secular.
E passados 143 anos desse discurso premonitório (1871) e
após 26 anos de termos escrito o que acima escrevemos (1988), para além de
termos entrado para a UE, da qual fazemos parte integrante e de pleno direito,
os erros foram tantos que estamos no que está à vista desarmada: a agricultura
caiu a pico e passamos a ser uma quase estéril charneca; a população está a
envelhecer e a decrescer a olhos vistos, sem que se alivie a miséria galopante,
que faz com que os mais novos e mais bem preparados de cá fujam como o diabo
foge da cruz. E, com todos esses desalentados e desalentos internos, foram-se a
indústria e o progresso, e nós sepultados na bancarrota.
E ao fim de 40 anos, depois de termos derrubado a longa
noite do obscurantismo pelo radioso e promissor dia 25de Abril de 1974, os gestores
do Povo produziram nele e nas forças laboriosas da nação um doentio abatimento
social, uma prostração do espírito de coesão nacional, pervertidos e atrofiados
por décadas ou até séculos de nociva educação, eivada de tenebrosa corrupção, pelo
que, a incerteza do dia de amanhã, o desânimo que se instalou um pouco em todos
nós, desaguam no latente mal-estar da nossa sociedade, pelo que, gemendo sob o
peso de tantos erros históricos, a nossa fatalidade é a nossa história.
Para já, temos uma herança do glorioso 25 de Abril que
muitos milhares de portugueses se esquecem de defender perante os grosseiros
ataques de muitos vendilhões pátrios, que só veem cifrões corruptos à sua
frente.
Estamos a falar do SNS, o expoente máximo em bem servir a
totalidade dos doentes e da população em Portugal, em que, pensamos nós, é um
caso para estudos internacionais, apesar de carências, por vezes financeiras e pelas
invejas galopantes de alguém que, em muitas escadas do poder, querer fazer da
Saúde um negócio altamente rentável e pernicioso para todos nós.
Portanto, exultemos, gritando bem alto: Viva Portugal! Viva
a nossa mui amada Pátria! Contra os vendilhões, marchar, marchar!
José Amaral
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