Santana-Maia Leonardo - DN de 23-4-2014
Acaba
de ser publicado um estudo a UEFA sobre as principais ligas europeias que
conclui o seguinte relativamente a Portugal: que a nossa Liga consegue ter
menos gente nos estádios do que as competições secundárias da Alemanha e da
Inglaterra e que o Benfica é o clube europeu que concentra a maior percentagem
de adeptos no seu país, mais precisamente 47%.
O que
é que uma coisa tem a ver com a outra? Tem tudo a ver. É precisamente pela
razão oposta que a Inglaterra é o país com mais gente nos estádios. Em Inglaterra,
por exemplo, o Manchester United reúne apenas 15% de preferências e, em
Espanha, Real Madrid e Barcelona juntos reúnem apenas 33%.
Não é
preciso ser muito inteligente para perceber que um campeonato de futebol a
sério necessita, antes de mais, de clubes em número suficiente, sendo certo que
um clube de futebol da I ou da II Liga pressupõe forçosamente uma massa fiel de
adeptos (e não adeptos de segundo amor) capaz de, no mínimo, encher o estádio.
Ora,
em Portugal existem apenas três clubes que monopolizam mais de 98% dos adeptos,
número manifestamente insuficiente para poder organizar um campeonato não só
competitivo dentro do campo como também que dê garantias de isenção e
imparcialidade fora dele, tendo em conta que a paixão clubística tem o condão
de transformar em seres irracionais até pessoas com dois dedos de testa.
Com
efeito, a organização de um campeonato onde só existem verdadeiramente três
clubes e um deles tem 47% dos adeptos fica automaticamente inquinada à partida
porque das duas uma: ou esse clube tem naturalmente a maioria em todos os
poderes de decisão fora e dentro de campo (árbitros, presidentes de clubes,
dirigentes associativos, delegados aos jogos, jornalistas desportivos,
políticos, etc.) ou os outros dois clubes têm de trabalhar no subterrâneo para
impedir que isso aconteça. Ora, qualquer das duas alternativas é perversa e
corrompe necessariamente a verdade desportiva. Aliás, o que se passa em
Portugal é muito semelhante ao que se passaria na Catalunha, se se tornar num
Estado independente e quiser organizar o seu próprio campeonato de futebol,
face ao peso desmesurado do Barcelona relativamente aos outros clubes catalães.
Em
todo o caso, o futebol é sempre o espelho de um país. E um país macrocéfalo,
pouco competitivo, corrupto e cheio de subterrâneos e de empresas de "faz
de conta" como o nosso não podia aspirar a ter um futebol diferente.
Não
adianta, por isso, o Sporting andar a apresentar medidas em nome da verdade
desportiva porque um país com três clubes e onde um deles tem metade dos
adeptos não está em condições objectivas de organizar um campeonato de futebol
profissional.
Se
Benfica, Sporting e Porto querem participar, efectivamente, num campeonato de
futebol profissional a sério, a Federação Portuguesa de Futebol devia propor à
sua congénere espanhola que estes três clubes participassem na Liga espanhola,
passando esta a chamar-se Liga Ibérica. Não há outra forma de termos
campeonatos competitivos e estádios cheios.
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