quarta-feira, 9 de abril de 2014

Carta a um Filho

 
Se fores capaz de não perder a cabeça quando todos à tua volta
perdem a deles e te culpam por isso;
se fores capaz de confiar em ti mesmo quando os outros duvidam,
mas aceitando perguntar a ti mesmo se não terão um bocadinho de razão;

se fores capaz de esperar sem deixar que a espera te canse,
ou, sendo alvo de calúnia, te recusares a caluniar,
ou, sendo odiado, não te deixares levar pelo ódio,
sem te tornar sobranceiro nem te perderes em palavras ocas;

se fores capaz de sonhar sem deixar que os sonhos te escravizem;
se fores capaz de pensar, mas não cruzares os braços;
se fores capaz de viver o triunfo e a desgraça
tratando-os, a ambos, como os impostores que são;

se fores capaz de suportar ver a verdade das tuas palavras
deturpada por velhacos para a transformarem em armadilha para os tolos;

ou, vendo as coisas a que dedicaste a vida feitas em pedaços,
te vergares para as reconstruir com ferramentas já gastas;

se fores capaz de juntar, numa mão cheia, todos os teus ganhos,

E arriscá-los num cara ou coroa,
perdê-los e começar do zero
sem nunca soltar um lamento;

se fores capaz de obrigar o teu coração, o teu espírito e o teu corpo

a servirem a tua vontade mesmo depois de exaustos
e, assim, te mantiveres de pé quando já nada restar dentro de ti,

exceto a força que lhes diz: “Aguentem!”;

se fores capaz de falar às multidões sem perder a virtude,
caminhar com reis sem deixar de ser simples;
se nem os teus inimigos nem os teus amigos mais queridos te conseguirem magoar;
se todos os homens contarem contigo, mas nenhum dispõe de ti;


se fores capaz de preencher o fugaz minuto
com sessenta segundos vividos plenamente,
tua é a Terra e tudo o que nela existe,
e — o que mais importa — serás um Homem, meu filho!

Rudyard Kipling (1865-1936)


4 comentários:

  1. Este poema é muito forte e saudável. Ainda muito jovem, li-o pela primeira vez num mural de um consultório médico, num período em que me debatia com uma doença prolongada. Nessa altura veio mesmo a propósito, e julgo que o interiorizei. Parabéns por tê-lo inserido no blogue, num momento em precisamos de alento para ultrapassar as dificuldades que estão em terra e, outras, que andam no ar.

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  2. O título que lá estava mencionado era "Se...".

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  3. Um Filho é nosso desde que nos nasce até nós, nos irmos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Mesmo que crescido fique e nós, envelhecendo, vamos!!!!!

    Augusto

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  4. ... que até, mesmo traduzido para português, começava, em inglês, por if ..., que também li na entrada de uma empresa de navegação.

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