Num célebre debate sobre a fé, entre o cardeal Ratzinger e o filósofo ateu Paolo Flores d'Arcais, este sublinhou o absurdo do Cristianismo, resultante do absurdo do principal artigo do seu Credo, a Ressurreição! Por sua vez, Ratzinger contra-argumentou com o "logos". Paolo d'Arcais citou o célebre dito de Tertuliano "credo quia absurdum!" e disse que a sedução da fé católica pelo monopólio da razão (logos) pode levá-la à tentação de se impor à sociedade mediante o braço secular do Estado (o que já aconteceu, acrescento eu). Não disponho aqui de espaço para continuar o resumo desse diálogo, mas ele está publicado pela Pedra Angular sob o título "Existe Deus?".
Como católico romano, acompanhei o debate , e sobre o absurdo da minha fé, bem apresentado por Paolo d`Arcais, assumo-o e concordo com ele. Aliás, sempre me entendi bem com os meus amigos ateus. Facto curioso foi descobrir recentemente um inesperado aliado, e logo um teólogo católico, a concordar muito com os ateus. Trata-se de Tomás Halik, que no livro "Paciência com Deus", diz: - "Concordo com os ateus em muitas coisas, muitas vezes em quase tudo, excepto no que diz respeito à sua não crença de que Deus existe"; e mais: - "A paciência com Deus é aquilo que eu considero a principal diferença entre fé e ateísmo".
Entusiasmado com a originalidade e saber deste teólogo, acabo de ler o seu segundo livro ("A noite do Confessor", edições Paulinas), publicado há pouco tempo entre nós, onde retoma a linguagem, tanto da convergência com Paolo d`Arcais sobre os paradoxos do Cristianismo, como da compreensão do ateísmo. A este propósito, conta um belo diálogo entre o ateu Sigmund Freud e o teólogo OsKar Pfister, seu amigo e discípulo, a quem perguntou se um crente cristão podia tolerar o ateísmo, ao que este respondeu: - " Quando penso que o senhor é muito melhor e mais profundo do que a sua falta de fé, e que eu sou muito pior e mais superficial do que a minha fé, concluo que o abismo entre nós não pode ser assim tão terrível"!
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