O Aníbal vai de calcantes. O Cavaco, solidário com o marchante com quem
alinhou no trilho que nos esmagou e nos pôs a deitar os bofes pela boca,
segue-o, guiado pela ilusão de que ambos fizeram história. Não se lhes conhece
o trajecto, mas crê-se, tracem o caminho que traçarem, que não serão retidos em
nenhuma fronteira de arame farpado, nem recorrerão a desviarem-se por mar em
bote a esfrangalhar-se para atingir "a paz, o pão, habitação, saúde, educação",
e o mais que o Sérgio nos cantara num cenário emigratório para idêntica selva,
e muito antes das actuais multidões se terem de atirar aos mares de morte, ou
de chegarem aos acampamentos lamacentos, gelados, desumanos, e que não se
erguem no alentejo profundo nem nas praias aonde ambos passam férias à custa de
proventos acumulados. Aníbal e Cavaco, não sabem caminhar sobre os pedregulhos
que a vida tece, mas apenas galgar pé ante pé nas areias quentes e macias,
sempre bem perto da comodidade do lar e dos bens conseguidos sem muito esforço
reconhecido, e dos jeitos que os amigos proporcionaram durante largos anos.
Aníbal e Cavaco formam com o senhor Silva um só personagem, que o povo quer ver
de costas há muito, e no entanto foi esse mesmo povo que lhe deu a cadeira
ilustre do Poder, e que por ele andou às turras. Matéria para especialistas
freudianos, estudar. Hoje, sabendo-se da sua partida sem retorno, chegamos de
novo ao 25 de Abril do ano de toda a esperança, já que enquanto estivemos sob o
seu jugo, retrocedêramos ao 24,5 de 74. A juntar ao afastamento de Coelho e de
Portas, respira-se agora em Portugal, um frio bom, porque oxigenado por um
vento de mudança, e Abril reapareceu enroupado no ânimo que nos quer de novo
esperançados. Preparemos uma festa brava e rija. Abramos champanhe, bebamos
medronho com figos do algarve, que o momento é merecedor, e que o baile ou o
corridinho dure até às tantas. Montemos uma tenda de refugiado e aonde caibam
os seus amigos enriquecidos e laureados à socapa, em memória do pior governante
e presidente que o antes e o depois de Abril de 74 nos impôs, e deixêmo-los
nela repousarem para sempre. Para sempre não perdoados e jamais esquecidos!
Ámen, e de acordo com todo o texto do confrade mouraria-mouraria.
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