ATORMENTAR CONSCIÊNCIAS
Vivemos um
tempo em que muitos idosos são sistematicamente destratados, quer nas suas familias quer nos pretensos lares que mais
não são que depósitos onde vegetam até que a morte os liberte, ao mesmo tempo
que se apoderam dos recursos que possam ter.
E é num
quadro destes que a famigerada “eutanásia” se torna algo tenebroso, podendo
servir de cobertura, se legalizada, para famílias sem escrúpulos e hospitais
“saturados” se livrarem de pessoas fragilizadas que só lhes dão “problemas”,
esquecendo facilmente quanto lhes devem.
Em “Novos
Contos da Montanha”, de Miguel Torga, há um quadro horripilante que descreve
como as famílias que tinham em casa um moribundo se livravam dele, recorrendo a
uma figura sinistra que vivia recolhida num ermo da aldeia, o “Alma Grande”,
cuja função era estrangular os enfermos que se revelassem resistentes a passar
para outra dimensão.
Mas ajudar a
morrer com dignidade uma pessoa que, senhora das suas faculdades mentais, mas
em estado terminal de vida, pede para não a deixarem sofrer mais, não pode ser
vista com aquela carga negativa que a palavra “eutanásia” transmite.
Parece-me
relevante, sim, é que esta decisão não esteja ao arbítrio de um só médico, ou
enfermeiro, mas respaldada no critério de uma comissão de ética que, segura de
que nada mais pode ser feito pela sobrevivência do doente, e sendo vontade
deste abreviar o sofrimento, lhe seja ministrado o medicamento adequado para se
“apagar” tranquilamente.
É evidente
que esta solução nem se equaciona para aqueles que, por questões de fé
religiosa, crêem ser sua obrigação levar a cruz ao calvário, sofrendo até ao
fim por amor ao seu Deus…
Amândio
G. Martins
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