sexta-feira, 10 de maio de 2013

A dívida (in) (ex) (e) terna


Alguns países do Sul da Europa, integrados num espaço a que se resolveu chamar União Europeia, debatem-se com um problema económico e financeiro chamado dívida, ao qual estão abraçados com tanta força e entusiasmo que, por absurdo, parece ser uma dívida terna, pois as medidas que são tomadas no conjunto europeu, em vez de serem para a esconjurar, são para perpetuá-la sem apelo nem agravo. Mas analisemos a dívida portuguesa, que é a que nos faz sofrer, de forma angustiante, desde há uns tempos a esta parte.
É interna, porque dentro do espaço pátrio do nosso país, muitos devem a muitos, muito ou alguma coisa, seja entre fornecedores, empréstimos bancários para habitação, contribuições ao Estado ou à Segurança Social. O próprio Estado, as empresas públicas e as Autarquias não honram, a tempo e horas, muitos dos compromissos assumidos. As falências e o desemprego galgam no tempo.
Por sua vez, a dívida externa, composta por empréstimos concedidos pelo BE, BEI, FMI e outras instituições, nomeadamente as que nos compram, nos Mercados Internacionais, os Títulos de Dívida Pública a que o Estado recorre frequentemente, a curto, médio ou longo prazo, é outra componente que agrava, hora-a-hora, a nossa caótica situação financeira, dado que numa economia em recessão os juros são mais um encargo para aumentá-la.
É eterna, porque honestamente não é possível pagá-la, dada a sua actual componente de capital e juros, cuja acumulação destes, por serem descaradamente usurários, tornam humanamente impossível a sua liquidação, tendo para tal que reduzi-la a um valor aceitável e praticável.
Abusando da fraqueza económica dos seus parceiros, os países mais fortes da União Europeia tratam os outros mais débeis, com uma sobranceria, que mais parece de escárnio que de verdadeira união. Os problemas dos mais pobres, fossem eles gerados por falta de capacidade governativa ou reflexo de causas externas, têm de ser encarados como abcessos no corpo da União Europeia e não algo que lhe seja externo. Se há União, ela tem de ser de facto e não apenas só no que convém aos países economicamente mais fortes. Os problemas têm de ser resolvidos urgentemente e não adiados para as calendas. Juntem-se os 27 e tomem medidas que irmanem as nações e não semeiem mais conflitos.
Esta gente que domina a EU não está a afundar um país, está a afundar uma civilização, porque o naufrágio alcançará toda a tripulação, incluindo o comandante do navio.
Temos de sair deste labirinto que é, o de que, a dívida somos nós ou nós somos a dívida, e que vivemos para ela e que ela estará sempre presente. Basta. A luta tem de terminar com a morte da dívida e a nossa sobrevivência.
JOAQUIM CARREIRA TAPADINHAS – Montijo

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