Vivemos numa profunda crise global dado que vivemos na primeira civilização global da História. O capitalismo tornou-se o sistema económico de todo o planeta e as excepções são apenas pequenos resquícios das velhas utopias, que só confirmam a regra. Há que encarar, pois, esta crise de uma forma também global sob pena de caminharmos para a catástrofe. Ruíram velhas convicções, criaram-se novos valores, novos padrões de vida em sociedade, avançou-se de forma galopante na tecnologia da informação, mas o Homem continua o mesmo e os fantasmas do passado ressurgem cada vez mais na Europa e fora dela. A política continua a fazer-se com os mesmos enredos e protagonistas, nas costas dos povos, sob a tutela dos grandes grupos financeiros mundiais. A esquerda e a direita confundem-se, aos olhos do povo, quando aceitam as mesmas medidas ditas fracturantes e julgam dividir-se quando se combatem retoricamente, nos parlamentos, para corrigir os erros do neo-liberalismo económico. Falo da direita tradicional, que se reivindica da democracia cristã e falo também da esquerda não totalitária, porque são estas que podem trazer uma solução para o futuro. Não em convergência mas em permanente diálogo, em busca de soluções duradouras para a sociedade do futuro. Para que tal aconteça, ambas as ideologias tem que reconhecer erros passados e deixar cair bandeiras que já não fazem sentido para o futuro. A direita tem que deixar uma certa canga moralista e conservadora e pugnar por mais justiça social, maior regulação da economia de mercado, maior distribuição da riqueza e mais igualdade de oportunidades para todos sem descriminações de raça, credos ou condição social. A esquerda tem que deixar cair velhos preconceitos sobre tudo que é privado, sejam escolas, empresas ou hospitais, sobre a necessidade de mais rigor e exigência na educação pública, nos deveres dos cidadãos e não só nos seus direitos e na necessidade dos povos de valores espirituais para sobreviverem, sem ver neles velhos ópios mais do que ultrapassados. Será nesta convergência dialéctica que se poderá construir no futuro uma sociedade em que o materialismo, puro e duro, seja substituído por valores morais e espirituais arejados pelos novos ventos da História, em que as necessidades materiais e espirituais sejam igualmente atendidas pelos poderes públicos, pois só assim o deus do consumismo, que nos torna infelizes e pobres, será derrotado por uma visão mais igualitária e holística do Homem e da sociedade.
(PÚBLICO, 1-6-2013)
José Carlos Palha
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