Salazar
morreu em 1970. Já passaram muitos e muitos anos. O regime que chefiava morreu em 1974. Já passaram muitos e muitos anos. No entanto parece
haver ainda muitas pessoas saudosistas de um regime que mantinha uma guerra
que ceifou a vida a milhares de jovens portugueses, uma polícia política que
torturava cidadãos que lutavam pela liberdade e por uma maior justiça social e
política, um regime que obrigou milhares de portugueses a emigrar para
encontrarem trabalho, um regime que apoiava a exploração do grande capital, um
regime que não tinha assistência social nem de saúde, um regime retrógrado. A este grupo de pessoas tentam algumas editoras e escritores chegar com os seus livros utilizando o nome de Salazar para promover as obras. A esta triste conclusão
cheguei ao olhar num dia destes para uma banca de livros e ver um livro com o
título de “Amor e Sexo no tempo de Salazar”, recentemente editado. Ora, para
quem anda atento ao panorama editorial livreiro em Portugal, já certamente
reparou na quantidade, para mim anormal pelas razões anteriormente apontadas, de
livros em que o autor ou editora optam por incluir o nome de Salazar no título
da obra. A maior parte das vezes os livros pouco ou nada têm a ver com o ditador mas sim com a
época em que viveu. Na obra acima citada, o autor deve quer retratar a
vida sexual e amorosa no tempo do Estado Novo, ou dito de outro modo na
primeira metade do séc. XX. Tão simples quanto isso. Mas um título como “A vida
amorosa e sexual dos portugueses na primeira metade do séc. XX” não causaria
tanto impacto como o título escolhido. Salazar ainda vende e de que maneira!
Não me espantaria nada que continuassem a surgir obras com títulos como “O
croché no tempo de Salazar”, “As deliciosas receitas de D. Maria a governanta de Salazar”, “A mini-saia no tempo de
Salazar”, “Memórias escaldantes do tempo de Salazar” ou, mais picante ainda,
“Os escândalos secretos no tempo de Salazar”. Sinceramente esta opção de editor
ou autor entristece-me. Acreditava que a figura do ditador estava devidamente
enterrada e sem ter deixado muitas saudades. Mas parece que me enganei
redondamente…no entanto assumo ter também em casa um livro com o nome de Salazar na capa. Chama-se “As vítimas de Salazar: Estado Novo e Violência Política”
de Irene Flunser Pimentel e Luís Farinha. É uma 2ª edição. A primeira vendeu
7000 exemplares numa semana.
Se
calhar, dado o sucesso do livro em 2007, editores e escritores adoptaram Salazar
para os títulos das obras posteriores, em nome das vendas…
D. Afonso Henriques, mesmo sendo rei, segundo se diz e até que se prove o contrário, não sabia ler. Nem ele nem muitos reis da sua época. Vivia o momento e as circunstâncias. Os anos de 50 a 70, do século XX, foram os da libertação dos povos colonizados ou submetidos à tutela de países mais poderosos. Portugal, país colonizador, tal como a França, a Inglaterra, a Holanda, a Bélgica, porque, para a época, defender territórios conquistados era glorioso, embarcou no mesmo barco. Podemos não ter feito uma descolonização exemplar, porque franceses e ingleses foram mais inteligentes, mas acabámos como os outros por perder as colónias. Salazar foi um produto nacional e da época. Não é útil nem inteligente, passados 45 anos anos deste ter deixado de governar que lhe continuemos a atribuir todos os males de Portugal. É preciso alongar a nossa visão para além das nossas fronteiras. Interessa agora, sem esquecer os erros do passado e, para que se rememore, citar os protagonistas,mas que os problemas profundos e actuais sejam resolvidos urgentemente e que as cortinas de fumo que se elevam, de vez em quando, não encubram a cambada de malfeitores actuais que estão a destruir o país.
ResponderEliminarOs males de Portugal são se podem atribuir a uma só pessoa. Talvez mais a uma mentalidade que permite que um sem número de coisas perniciosas aconteçam e continuem a acontecer neste país. O que lastimo é o oportunismo de editoras/escritores com o nome de alguém que contribui para o atraso económico e social em que vivemos neste momento sabendo eu perfeitamente que outros depois dele continuarem, de outra forma, em liberdade, a contribuir para o mesmo atraso ou para ser mais brando, crescimento lento.
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