(Pintura de Alda Carneiro)
A notícia vem na edição do “Público” de sexta-feira
passada. “Os livreiros no seu labirinto” é o título de um artigo que tenta
retratar o quão difícil é hoje em dia manter ou abrir uma livraria digna desse
nome. São referidas as últimas baixas nesta guerra de sobrevivência e também
são referidos casos de sucesso. Curiosamente não se menciona, porque não era
para ali chamado, o caso megalómano da livraria gigantesca que um dia alguém
decidiu abrir ali para os lados das Amoreiras, em Lisboa, com tudo o que de
tecnologia de ponta existia mais um espólio enorme disponível para os leitores.
Fechou cerca de dois anos depois com dívidas de milhões! E não foi referida
porque não é desses casos, sem qualquer sentido de oportunidade, de que se fala
no artigo. Mas sim de casos de manutenção de livrarias com muitos anos e de um
enorme valor simbólico, com um grande fundo editorial e situadas, a maioria, na
capital. Lisboa. É sintomático haver em Lisboa, numa cidade com cerca de um
milhão de habitantes, tantas livrarias a fechar as portas ultimamente ao mesmo
tempo que se diz que o número de livros vendidos tem aumentado anualmente.
Mesmo aqui na minha terra, no centro comercial cá do sítio, vi algo que nunca
julgaria ver. A “Bertrand” a fechar. E não existe mais nenhuma livraria aqui na
cidade!...excepto a secção de livros no “Continente”, que, curiosamente, um
destes dias foi reduzida drasticamente. A secção de poesia, puf! Desapareceu! E
as estantes têm metade dos livros que tinham. As razões para esta crise
livreira são muitas e variadas. Há uma que é uma boa razão mas que só por si
não é significativa. O crescimento de pólos bibliotecários pertencentes às
autarquias onde se podem requisitar livros gratuitamente. As outras são de
ordem comportamental, económica, etc. No entanto algumas situações deveriam ser
combatidas ou devidamente fiscalizadas para proteger quem está neste ramo de
actividade. Por exemplo, quem tem um talho, uma frutaria ou peixaria não vende
livros, certo? Porque carga de água de um momento para o outro começaram as
estações de correios a vender livros? E porque não optaram por artigos de
beleza, fruta ou outra coisa qualquer? Seria na mesma concorrência desleal, sem
dúvida, já que é disso que se trata. Como é dito por um ex-livreiro, no futuro,
quem quiser livros bons vai aos alfarrabistas, e os livros em geral serão
vendido quase e só em supermercados, estações de correios, bombas de gasolina, estações
de comboios e nos corredores dos hospitais (sim, não se riam, mas no H.S. João
no Porto, está lá uma banquinha com livros e diz a senhora que se vende…) e na
internet. Eu, quando fiquei desempregado e descobri que pela minha condição de
analfabeto (12º ano) e demasiado velho para voltar ao mercado de trabalho (50
anos) dificilmente voltaria a arranjar emprego, sonhei com uma livraria. É o
meu sonho de trabalho. Andei uns tempos a imaginar montras mirabolantes
completamente diferentes das usuais montras de livrarias. Mas depressa descobri
que era realmente utópico num país com uma taxa tão baixa de pessoas que gostam
de ler e de comprar livros estar a abrir um negócio desse género seria caminhar
directamente para a falência. Por isso tenho uma simpatia especial pelo sr.
Herculano, dono de uma pequena e simples livraria/alfarrabista lá para os lados
da Praça da República no Porto. É uma pessoa simpática e honesta. E realiza o
sonho que tenho.
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