quinta-feira, 9 de maio de 2013

Portas giratório

 
Sou um reformado. Não “instantâneo” mas “cozinhado” por 44 anos de contribuições do meu (real) salário, sem falhar um centavo, ou melhor, um cêntimo (muito embora não seja de pôr de parte voltar a estar na moda o centavo…).

Por isso, quando, no domingo, ouvi o sr. Portas “declarar-se” ao país, senti um enorme impulso de com ele entrar em “consenso”, quiçá de o venerar, sei lá, de me pintar de amarelo e azul, usar boné, ir para lavoira e para as feiras à espera dele. E até, mais, assaltando-me para isso uma tremenda força anímica, de girar 360 graus (ou mais) sobre as minhas simpatias partidárias e, apesar do que se (não) vê, de me inscrever no Pêpê.

Até achei um piropo aquilo de (nos) chamar “grisalhos”, isto aos velhotes que, apesar do efeito retardador e restaurador (como o Olex) do “factor de sustentabilidade”, a maioria (M/F) já está (quase) careca.

Mas, agora, que gira por aí que tudo não passou de “teatro”, “encenação”, “cena maquiavélica”, que “afinal Portas aceitou cortes de 740 milhões por ano para reformados do Estado”, giro (em sentido contrário) outra vez sobre mim mesmo.
É que, a ser assim, fico indignado por concluir que nem sequer respeito há pelo direito à dignidade, ao equilíbrio emocional (pessoal e familiar), mental, físico e social, à confiança e esperança cidadã na sociedade e na Política, daqueles que, como agora os pensionistas (mas não só…), são usados como joguete, arma de arremesso, instrumento descartável nestas manhosas giravoltas “políticas”. Mas, apesar dessa revolta, afinal, não fico surpreendido.

O sr. Portas tem girado pelo mundo, por terra (de táxi), mar (de submarino) e ar (como ministro estrangeiro dos negócios).

E, pelos vistos, gira com “flexibilidade” do austeritarismo para a “consciência social” e, com “pragmatismo”, sem se mexer, de dentro para fora (e vice versa) do Governo.

Com o mesmo “profissionalismo” (segundo o professor Marcelo) com que girou do CDS para o PP, do PSD para o PS (e vice-versa), mau grado acabando por aguentar um penoso giro no PT (partido do táxi). E, entretanto, entre tanto giro, passou a girar à volta do PC (partido do contribuinte) e, como se (ou)viu no domingo, também do (outro) PP (partido dos pensionistas). 

Por isso, este giro de fim de semana (de sexta a domingo), é mesmo bem capaz de ter sido gis(r)ado, claro que em prévio “consenso” (“consenso”, sempre!), entre ele, PP (Paulo Portas) e o PC (Passos Coelho).

Será por causa do giro da troika?

Enfim, parece que em qualquer Governo faz jeito (e é giro!) ter … um Portas giratório.

JOÃO FRAGA DE OLIVEIRA

(Publicado no Público de 8/5/2013, p.44)

1 comentário:

  1. Eu também gostei pelo jogo de palavras e ideias e foi colocado no blogue Oeiras Local.

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