- E o prémio - um Aude A10 e a gravação de um disco a solo - vai para
Aníbal Cavaco Silva (702 669 669
).
Caem confetís do céu, ouve-se o
som empolgante do “Hino da Liberdade”, o público histriónico rejubila e ensina
cartazes a pedir a gravata com autógrafo, foi o mais votado.
Fica aqui um
apontamento aos finalistas que podiam ter sido vencedores, mas não foram: Passos Coelho, António Costa, Paulo Portas, Ricardo
Salgado, Justiça.
Os seus mentores conformam-se com a decisão do
público - soberana – e apresentam-se bem vestidos e animados para a gala final.
Seguem os argumentos
fortes de cada um desses candidatos a personalidades do ano e que não
colheram - foi o melhor leque e das escolhas mais difíceis das últimas edições .
Passos
Coelho (702 669 669):
Obstinação. Confunde-se por vezes com perseverança, que é uma qualidade do Bem,
trabalho que não desiste para se atingir um bom fim. A obstinação é o mesmo em
negativo: o fim é sentir-se bem consigo próprio, independentemente dos outros,
que para si não existem senão como estatística para ilustrar os objectivos
pessoais.
António
Costa: Câmara de Lisboa. Quem não conseguiu resolver uma coisa tão simples como
o fluxo de tráfego numa das principais artérias da cidade (Av. da Liberdade),
quem deixou quase todas ruas cheias de crateras, quem não tratou dos jardins e
das fachadas, quem descuida a protecção civil e os bombeiros da cidade, quem é
assim diletante, será assim noutros palcos de maior audiência. Actua travestido
de cantor bipolar: insegurança, arrojo, cautela, audácia, falsetes, falsetes.
Paulo Portas:
O político. Mas não o político dos nobres ideiais, da dimensão humana, da
universalidade dos valores. O político dos tempos de hoje: um beto populista,
que trata os outros por “você” de uma forma pimba. Poderá viver toda a sua
existência, sem vir a parar na casa da justiça. Jamais conseguirá limpar da sua
voz afinada, a mancha da desconfiança gerada pela perversidade das relações
entre a política e as comissões.
Ricardo
Salgado: O exemplo. É a Maléfica dos 101 Dalmatas. Verdadeira Prima Dona. Fascina a cabeça de muitos
miúdos, que um dia gostariam de ser assim. O exemplo do sucesso material, do
poder quase absoluto, do mundo com cheiro a suor vergado a seus pés. Para
poucos – indivíduos residuais com autonomia no pensar – o exemplo maior da
decadência do homem no mundo. Um tenor que já arrebatou públicos exigentes, mas
que acabará a cantar duetos improváveis.
A Justiça. Cara
sem rosto. Arbritária, esotérica, comichosa quando tocam nos seus interesses e
regalias, imprevisível, intocável. Desde o início uma candidata de enorme
potencial, mas que teve ao longo das galas momentos altos e baixos. Sendo de
uma grande inconstância, é difícil perceber todas as suas potencialidades.
Arrumados os
candidatos, que agora assistem com as suas famílias – uma salva de palmas forte
para eles - resta-nos na gala do ano que passa, Aníbal Cavaco Silva.
Relembremos os seus melhores momentos (de novo, o “Hino da
Liberdade”, acompanhado em palco por um apontamento do “Quebra Nozes”, executado
por alunos da Companhia Nacional de Bailado, que pagaram a deslocação ao estúdio
pelo seu próprio bolso).
- A ele
devemos quase tudo o que temos nesta “Democracia”- diz o apresentador a
babar-se de contentamento, lendo o que está a passar no “ponto”, e ele baba-se
sempre de contentamento, diga o que tenha que dizer.
(desenrolam-se
então no ecrã, momentos, em voz off )
“A captação dos rios de dinheiro da UE, cujos
caudais encheram as piscinas de amigos e correligionários.
A incubação e parto assistido do
maior banco de malfeitores do crime económico, que o país conheceu na sua longa história.
A defesa pelo silêncio, desses amigos
e correligionários.
A completa inação e alheamento – com propósito
- sobre o estertor da nação.
A colagem escandalosa aos
companheiros da sua cor política ou de interesses, protegendo-os e
carregando-os ao colo até à porta das próximas eleições.
O autismo profundo ou intencional acerca
da realidade : do país, das suas gentes, das suas esperanças e ansiedades.
Não fazer nada, e estragar tudo!”
As
bailarinas bailaram bem, e a audiência- agora histérica e agradecida – ribombou
palmas até há exaustão. Os apresentadores tiveram alguma dificuldade em repor a
emissão.
Todos os
finalistas deste ano terão o seu parágrafo ou pequeno capítulo na história.
Daqui a cinquenta anos, eventualmente alguns miúdos mais dedicados a estas
áreas, hão-de ler esses parágrafos e encontrar alguma curiosidade nestes
personagens, tentando perceber de que forma eles contribuiram para o desmoronar
do sistema político da época.
Mas Cavaco, ganhou a imortalidade e por isso
merece estar na grande final.
Se quis ser “O Grande Estadista”, foi manco de
honestidade intelectual, de inteligência emocional, de palavra feita acção. Se
no entanto a sua ambição só era ficar nos manuais então conseguiu, pela negativa de tudo: a sua
pegada canora vai levar décadas a causar otites agudas, e quem sabe se não vai
marcar, por muito, tanto tempo, a batuta
do panorama nacional.
Demos a graças
ao Novo Ano de 2015, ouvindo o seu sublime cante, investindo todas as “passas”
, de uma só vez, e com todo o desejo da mente e no deglutir da taça de
espumante barato, anelando porque a
gente deste país – por passes de mágica
ou um milagre que alguém o faça – possa um dia ter capacidade reflexiva,
analítica, crítica, pensar por si, para si ,e com os outros, no despertar deste pesadelo
desafinado que nos envolve há séculos na violação da dignidade.
Sonhamos
todos em ser o factor X, mas isso não é para quem quer, é para quem cante bem.