quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A Luísa e o António.

- Ó Luísa senta-te aqui e bebe um café.
- Obrigada António mas já bebi em casa.
- Ó mulher não paras, andas sempre de um lado para o outro.
- E sou mais velha do que tu dois anos, no próximo mês faço setenta e seis anos.
- Não te preocupes, o Costa ganhando as eleições aumenta as reformas e já não precisas de andar nessa freima.
- Eu nunca trabalhei para o estado para ter uma reforma de milhares como tu.
- Não te esqueças que eu descontei muito.
- Deixa-te de tretas, tu reformaste-te aos sessenta e cinco anos, se durares mais vinte anos a receberes uma reforma de milhares por mês achas que descontaste o suficiente, para não falar doutras regalias que tens, deixa-te de tretas és da esquerda mas é do teu bolso.
- Ó Luisinha reconhece que se vivia melhor no tempo do Sócrates do que agora.
- Vocês são fantásticos para branquear o passado, esse Costa que tu tanto admiras está ansioso por subir ao poleiro para comer e dar de comer aos do partido dele, reparaste que os parasitas já andam à volta dele, cheira-lhes a mesa farta e bolsos cheios, olha se ele quis reduzir o número de deputados, são poucos para os pretendentes, depois aumenta o número de funcionários públicos e os salários e tem os votos garantidos e o povo aguenta. 
- Ó mulher atiras a matar.
- Só tenho a quarta classe mas não sou estúpida que me interessa viver acima das minhas posses durante algum tempo, no futuro vou ter que estender a mão a pedir ajuda, como o nosso país já fez três vezes e sempre com governos socialistas, depois quem vier a seguir aguenta a bucha e claro é o mau da fita.
Eu não sou contra os estrangeiros, sou agradecida a quem me ajuda, resta saber se eles estão com pachorra no futuro.
- Ó Luísa não estás mal, tens um apartamento e eu vivo numa casa alugada e o meu salário é único em minha casa.
- Está caladinho não me puxes pela língua, o apartamento acabei de paga-lo à pouco, não tinha dinheiro suficiente e o meu patrão emprestou-me o que faltava sem cobrar juros, é por isso que estou sempre disponível, pois foi um grande favor que me fez.
- Ó filha o destino foi traiçoeiro para mim, o meu filho é aquilo que tu sabes, vai fazer uma desintoxicação, vem bem, passado algum tempo volta ao mesmo, a minha filha tem dois filhos para criar, o pai do mais velho desapareceu, dizem que foi para a Austrália, o pai da mais nova é casado, não dá nada para o sustento da filha.
- Sabes António o destino quando nos convém tem as costas largas, estragaste os teus filhos, querias que eles fossem doutores, andaram na faculdade de dia, á noite nas festas a gastar o dinheiro do pai, o teu filho não acabou o curso, a tua filha é professora, não arranja emprego a dar aulas e não se apega a trabalhar em mais nada, nós temos aquilo que merecemos e o mundo que fazemos, os mais novos são quase sempre o espelho de nós, quando o meu filho disse que não queria estudar foi trabalhar, aprendeu a arte de eletricista, não lhe falta trabalho e ganha bem, tu já trocaste de mobília várias vezes, eu ainda tenho mobília de quando casei, carro nunca tive, viajar só fui uma vez há capital, restaurantes só se for a minha cozinha, admiras-te que eu tenha uma casa, mas tenho regras que tu nunca tiveste, dinheiro a mais cria vícios, facilita demais a vida, torna as pessoas egoístas e comodistas, tira-lhes o ânimo para lutarem por uma vida melhor.
- Ó Luisinha falas de uma maneira que fazes-me lembrar o tempo do Salazar.
- O diabo seja surdo, mudo e cego, nesse tempo passei fome, vivia numa barraca e comecei a trabalhar com doze anos, quem era pobre passou muito mal, mas digo-te muito sinceramente gosto do Cavaco Silva e do Passos Coelho. Admiro pessoas honestas, trabalhadores, inteligentes, realistas, comedidos, as coisas devem ser feitas com peso e medida, basta de maledicência, de inveja, de criar ilusões no povo quando sabem que vão dar mau resultado.
- Não sejas tão amarga, a intenção era a melhor, proporcionar uma vida melhor ao povo.
- Olha perfeito não há ninguém a começar por mim, ninguém consegue agradar a todos, eles dizem que é preciso mais cachopos, convém aos políticos, quanto maior for a miséria mais são as promessas para conseguir o poleiro, coitadas das nossas mães tiraram à boca para nos criar sem subsídios, sem ajudas das instituições como tem a tua filha que anda sempre toda jeitosa sem fazer nada.
Eu trabalhei toda a vida, não tenho obrigação de sustentar os filhos dos outros, quem não poder tê-los que tome a pílula que é grátis.
Quando somos muitos e o pão é pouco todos ralham e ninguém tem razão e como eu nunca estive à espera do ovo no cu da galinha espero trabalhar até morrer para não depender de ninguém.
Lembras-te da Palmira Bastos?
- Então não lembro, gostava de ver aquela peça de teatro em que ela dizia que gostava de morrer de pé como as árvores.
- Eu estou como ela também gostava de morrer de pé, tu já duvido, a estas horas da manhã já estás na esplanada a beber, ó criatura há instituições que precisam de voluntários, davas umas horas por dia e fazia-te bem, sentias-te útil, passas aqui os dias a falar de política, de desporto e sei lá do que mais e um dia destes estamos no caixão.
- Ó Luísa já trabalhei muito.
- Sim abelha, se tivesses trabalhado como eu que sempre tive patrões, já tinhas morrido.
- Luisinha o que eu preciso é de uma mulher, vai fazer dois anos que estou viúvo.
- Tens os teus filhos.
- Por acaso, se estou a contar com sapatos de defunto bem morro descalço, nós podíamos juntar os trapinhos e fazer companhia um ao outro.

- O que tu queres é uma empregada para todo o serviço, homem tive um e chegou, prezo muito a minha liberdade, não estou para aturar desaforos de mais nenhum e para companhia chega-me os meus gatos.
- Mas olha meu amor não sabes o que perdes, ainda sou homem para te dar uns bons apertões.
- Ai que a conversa esta a estragar, tu nem para me apertares os dedos dos pés, vai dormir que o teu mal é sono, até logo António.                                                                   

                                                                                       Com amizade.

                                                                                                  Araujo.

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