quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Estava eu à espera

Estava eu à espera que a companheira de toda a minha vida chegasse de ‘feirar’ o que ainda não tinha ‘feirado’, quando eu, rebuscando papéis que comigo quase sempre trago - semi-rascunhados, semi-escrevinhados, garatujados ou ainda por escrever – topei num deles com as seguintes anotações proverbiais: ‘de noite todos os gatos são pardos; quando está fora o gato folga o rato; gato escaldado, de água fria tem medo; a curiosidade matou o gato; quem não tem gato, caça com quê?’.
E nesta monóloga fabulação, as pessoas passavam por mim, sem eu passar por elas, porque estava dentro do meu ‘casulo’ à prova de qualquer intromissão pessoal e verbal, a menos que de mim se abeirasse o arrumador que avisto, pedindo a almejada e ‘sacramental moedinha’.
Por momentos, parei de pensar e de escrever, quando vi e ouvi alguém a atravessar a estrada, sem prestar a mínima atenção ao trânsito. Então, abruptamente, um automobilista buzinou, para imediatamente a incauta e bamboleante transeunte replicar, vociferando - ‘vai-te f…!’.
E eu, sem qualquer gato por perto, mas somente com a minha rafeira Teca ao lado, ia olhando para os lados da feira na esperança que a minha companheira se destacasse de entre toda a gente, vindo ao meu encontro, a fim de regressarmos à nossa toca, da qual também temos constatado e vendo que ‘de noite todos os gatos são pardos’, como os mui pardacentos politiqueiros, que nos têm metido à força numa camisa-de-força e num beco sem saída.

José Amaral

2 comentários:

  1. pedacinhos de vida... sabe bem... como um pequeno chocolate fora de horas , quando nos apetece. Obrigada!

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