O futebol português é o espelho da nossa realidade política. E não deixa de ser engraçado ver os nossos comentadores políticos procurarem dar alguma racionalidade ao comportamento do eleitorado português quando ele se move exclusivamente por razões clubísticas. Acreditar que o caso Sócrates é capaz de retirar algum voto ao Partido Socialista é o mesmo que acreditar que o Porto ou o Benfica perderam adeptos por causa do Apito Dourado ou da prisão de Vale e Azevedo.
Analisemos o caso recente de Miguel Rosa e Deyverson que foram impedidos de defrontar o Benfica pelo presidente do Belenenses, em virtude de um acordo de cavalheiros entre os dois clubes. É óbvio que se trata de uma violação grosseira dos regulamentos que considera nulas todas as cláusulas deste tipo insertas em contratos de cedência de jogadores. Se vivêssemos num país decente, os clubes seriam penalizados e não seriam admitidos sequer aquele tipo de argumentos à portuguesa a fazer dos outros parvos.
Mas, em Portugal, sempre que acontece uma violação descarada da lei por parte de um grande, a reacção nunca é punir o grande mas invocar a pouca clareza da lei e, de imediato, propor uma alteração legislativa para que isso não volte a suceder. Desta forma, matam-se dois coelhos de uma cajadada: por um lado, não se pune quem se devia punir e, por outra, atira-se a culpa para cima da lei. Infelizmente, em Portugal, a lei só está bem redigida para os pequenos porque, para os grandes, está sempre mal redigida, independentemente das vezes que seja aperfeiçoada.
Mas existe um dado na argumentação do presidente do Belenenses, que tem sido sufragado por muitos comentadores, que revela muito da forma como o povo português entende o profissionalismo e a deontologia profissional. Segundo o presidente do Belenenses, os dois jogadores foram impedidos de jogar para os proteger pelo facto de terem uma ligação ainda que remota ao Benfica, o que poderia influenciar negativamente o seu desempenho. Ou seja, aceitando este argumento, por maioria de razão se deveria impedir adeptos do Benfica de arbitrarem, participarem em decisões do Conselho de Arbitragem, de Disciplina ou outro em que estivessem em jogo interesses do Benfica. E, tendo em conta que 47% dos adeptos portugueses são do Benfica, o melhor será considerar-se que a Liga portuguesa não tem condições para realizar jogos com um mínimo de seriedade porque haverá sempre adeptos do Benfica nas equipas contrárias, inclusive na direcção.
Este tipo de suspeição e de argumentação é típica de povos corruptos que não acreditam que a ética e o rigor profissional se possam sobrepor ao amiguismo e aos interesses de grupo.
Tem toda a razão. Os 'treinadores de bancada' são um caso verdadeiramente epidémico.
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