História que não
aconteceu
Depois de muitas habilidades
habilidosas lá se arrumou a herança. Alguém foi para as entidades oficiais fazer
os registos de propriedade enquanto se foram fazendo as escrituras. A família
era grande e a propriedade dos bens nunca tinha sido devidamente registada senão
nuns pseudo testamentos feitos em papel de 25 linhas que se foram guardando. Até
que naquele dia o assunto ficou arrumadíssimo, e o jovenzinho da família lá
ficou com um bocado de terreno.
Como era ali perto o jovem mobilizou
alguns amigos para irem ver a herança. O tal bocado de terreno ficava numa zona
quase histórica da vila, entalado entre quatro prédios sem possibilidade de se
alargar. Depois do primeiro silêncio o amigo que tinha sido colega no Liceu e
agora cursava arquitectura animou o herdeiro com um eh! Pá! faz-se em altura,
aproveita-se toda a área para os andares e umas varandas bem salientes aliciarão
os compradores. O que tinha um pai engenheiro ligado a uma boa empresa, prometeu
pedir ajuda para limar-se as dificuldades. E o amigo ligado à banca prometeu o
necessário suporte financeiro.
Além lembrou que havia falta de
estacionamento e as construções naquela zona não tinham garagens por
características do terreno o que tornariam pouco apelativas e poderia não se
venderem tão rapidamente como se precisava para pagar empréstimo e guardar os
ganhos. Mas logo o ligado às engenharias informou que actualmente fazer um ou
dois pisos enterrados já não é problema dado os novos conhecimentos sobre
fundações. Era só fazer um buraco fundo, adorná-lo de paredes de betão, colocar
um tecto suportado por uma ou duas vigas, fazer o mesmo por cima e pronto. Mais
umas rampas bem inclinadas e os carros entrariam e sairiam.
À noite à mesa do jantar foram
ajustados mais uns pormenores e iniciaram-se os contactos com o construtor,
também do círculo dos amigos pois como era negócio particular não era preciso
concurso público. Estimou-se o empréstimo bancário, fizeram-se uns telefonemas e
pela manhã o projecto foi entregue nas entidades oficiais e logo as máquinas
começaram a trabalhar.
E as máquinas rasparam o terreno e
começaram a escavar a escavar. Rapidamente veio uma autorização cautelar que foi
colocada em grande cartaz como definitiva e até apareceram possíveis compradores
de parcelas a pedir informações sobre condições de aquisição tal era a
exuberância do projecto.
Mas, entretanto, o custo do
escava-escava e reforço dos suportes de betão face às características do
terreno, exauriu o empréstimo bancário e sem dinheiro e sem obra para renegociar
outro empréstimo as máquinas foram-se embora e ficou apenas um buraco
identificado pelo tal cartaz.
Publicado em Jornal Costa do Sol em 3 de Dezembro de 2014
Foi mesmo assim. Os buracos são/foram muitos e muitos de nós neles se afundaram.
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