Imenso, majestoso, trespassando a galeria com olhos que olham
para dominar – gumes de faca afiada.
Disse, disse, e não disse nada. Disse pausadamente, soletrando,
interpondo intervalos nas palavras. Coloriu a actuação com gestos estudados,
tirando os óculos e pondo-os em repouso, ajeitando a simetria das lapelas do
casaco chiquíssimo, tudo para distrair atenções.
Pode dizer tudo sem dizer nada, que ninguém lhe chamará a
atenção.
....
Havia que ainda há, um pastor dono de quase todos os rebanhos.
O seu rebanho – a perder de vista - são segredos, seus e de outras
pessoas. O cajado, a malha com que impõe o silêncio.
Ele é um bom pastor.
Não fosse um exímio guardador de segredos e outras pessoas, e
quantas ovelhas não se perderiam, tresmalhadas, indefesas, expostas e frágeis, perante
a ferocidade do lobo mau.
O lobo mau sois vós. Sim é verdade! Não julguem que a eterna
capa de coitadinhos e desprotegidos vos iliba da maldade que vos consome: quererem
a todo momento e instante, a desgraça dos bem sucedidos.
São estes seres desfeados pela lepra da inveja, ansiando por um
bom linchamento em praça pública, a cheirar a enxofre, que rondam incessantemente
o rebanho.
Este é um pastor em que se pode confiar. Protege o seu rebanho,
a menos que de vez em quando se desfaça de um dos seus caprinos – mais fraco –
para manter o curral saudável e livrar-se de preocupações.
Esse cabrito indefeso, vai alimentar as feras, saciando pelo seu
sangue a paranóia de justiça, que atormenta as suas cabeças doentes. E assim
hoje deixa cair um, amanhã outro, e assim seguirá, impoluto e bem sucedido o
seu caminho de grande guardador de rebanhos.
Há-de chegar o dia em que o lobo mau (vós!) deixará de atazanar
o rebanho, e dará descanso ao pastor, porque este chamará a atenção do lobo
para outros rebanhos e assim distrairá a fera.
Ao pastor, os astros que não se enganam, auguram uma vida longa
e próspera, apesar das bestas esfaimadas.
Ao lobo – dizem os astros – prenuncia-se que continuará a gozar
de má fama, ser mesquinho e esfomeado.
Gostei muito de tão exceelente alegoria e metáforas juntas.
ResponderEliminarObrigado José. Um abraço.
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