Tenho que vos confessar que tenho
uma enorme ambivalência em relação à época natalícia, não porque não me
identifique com a sua génese e não tente ter como referência do meu dia a dia
os valores subjacentes ao verdadeiro espírito da época, mas porque cada vez
tenho menos paciência para a hipocrisia reinante durante esta período –
felizmente é curto, dura mais ou menos duas a 3 semanas, mas mesmo assim é
suficientemente longo para me provocar uma urticária emocional profundamente
irritante.
Estou cansada de, nesse período,
assistir qual milagre da multiplicação dos pães a uma verdadeira pandemia de
bipolaridade fraterna, onde toda a gente “lava a alma dos seus pecados” com
falsos protocolos de boa convivência, mensagens, prendinhas e quejandos.
Durante
esta trégua cínica podemos assistir a malabarismos dignos do Cirque du Soleil e
muitos que durante onze meses e picos se ignoraram, se maltrataram, se
atraiçoaram e outras coisas terminadas em “aram” que agora não me apetece
dizer, aparecem agora vestidos de uma magnânima bondade e compaixão, tentando
com esse gesto apagar tudo o que fizeram antes e vão voltar a fazer depois das
festividades.
Nem sempre fui assim, mas aquilo
a que alguns hoje chamam ser “bicho do mato” ou “convencimento”, eu atrevo-me a
chamar maturidade e honestidade pessoal.
Recuso-me a fazer de conta que gosto
de quem não gosto; não faço fretes nem favores e muito menos me exponho ao
ridículo de fazer o “socialmente correto” só para manter o “falso figurino do
respeito e da generosidade”.
Durante muito tempo desejava, de coração, Boas Festas personalizadas a imensa
gente e fui percebendo que me devolviam o gesto mais por “obrigação” do que por
“devoção”, como diz o povo. Um ano fiz a experiência…não mandei a quase ninguém
e tchanan…o meu telefone teve umas férias de paz e sossego que não esperava.
Aprendi a lição, preciosa, ainda
que em certos casos dolorosa e tomei algumas decisões. Se o Natal é Amor e para
mim é mesmo isso, não precisa de grande expressões exteriores e/ ou públicas. Quem
me ama verdadeiramente não precisa do Natal para mo fazer sentir, nem vice
versa e essa convicção foi fundamental para começar a distinguir o trigo do
joio.
O Natal, o verdadeiro Natal é a “Presença”, não o “Presente” e a
presença de que falo não é necessariamente a presença física – podemos estar
longe fisicamente e muito perto nos afectos e na forma como nos damos aos
outros – isso sente-se, não se vende nem se compra.
Por isso o meu Natal é nos
dias de hoje aparentemente mais pequeno, porque tem menos gente, mas é
incomensuravelmente mais rico porque é, sem sombra de dúvida, mais verdadeiro.
Boas Festas...
Boas Festas Graça. Contam os que estão na mesa, animados e bem dispostos. Esses são os que queremos e gostamos!
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