Fui dos que nunca se satisfizeram com a destruição das
escutas a José Sócrates. Se como o PGR e STJ da altura disseram que nada tinham
de especial, ainda menos se percebeu a pressa de as destruir. Agora,
relativamente a um alegado crime fiscal de Passos Coelho (PC), caso seja
eventualmente verdade que omitiu declarações às autoridades a que estava
obrigado (AR, AT e TC), estaríamos perante um facto muito grave. E não importa
absolutamente nada que os eventuais crimes tenham prescrito. Se PC entende, no
caso de ter prevaricado, que a prescrição absolve o seu crime, está
completamente enganado e de política percebe nada. Para além de ter de parecer
sério, e ser também, PC ficaria ferido de morte na sua credibilidade enquanto
líder político e PM. Como é que os cidadãos poderiam em consciência cumprir as
suas obrigações fiscais se o Chefe do Executivo do País o não fez? Que exemplos
são estes? Caso seja verdade, é de uma absoluta falta de vergonha que não se
tenha demitido já. Aliás nunca deveria ter aceite ser PM, sabendo desse
"capitis deminutio" que o marca indelevelmente pra o resto da sua
vida política. É como um ferrete que o perseguirá sempre, aonde quer que fale
ou apareça. Um vulgar cidadão poderá pagar a sua pena e as suas coimas perante
um crime desses, e seguir com a sua vida. Um político fica condenado para
sempre, na sua credibilidade e autoridade moral perante os seus concidadãos. Já
tivemos dois políticos da área do PS, que se demitiram imediatamente, após
terem sido conhecidos os seus alegados crimes fiscais. Um deles aliás, até
provou ter razão e ser inocente. É urgente que o PM se pronuncie claramente
sobre esses factos muito graves, e não nos venha "dar música" com a
habitual conversa de colaborar com a Justiça, e dizer que não se lembra de
factos que ocorreram há apenas uma dúzia de anos e envolveram muitos milhares
de euros. Seremos todos parvos?
Publicado hoje no Público.
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