sábado, 27 de setembro de 2014

Participemos

Não me venham dizer que "trabalho e pago os meus impostos"! O tigre que caça o javali está, de certa forma, a trabalhar; e o javali que foça raízes está a trabalhar; e nós trabalhamos, antes do mais, para ganhar a vida. Certamente há algum parasitismo, a criticar e a erradicar, mas trabalhar é um facto da vida, não merece especial crédito. Quanto aos impostos, esses são... impostos! Se fossem uma contribuição voluntária, com quanto contribuiríamos? Com alguma coisa? Muito provavelmente, mas quase de certeza seria bem menos do que o imposto que nos é imposto. Mais uma vez, haverá uns malandros que se esquivam, mas sendo o imposto imposto, pagar também não merece especial crédito.


J.F.Kennedy, disurso de investidura, 1960
(cc-by-nd U.S. Embassy The Hague, flickr.com)
Deveremos, sempre e todos, ter o direito de opinar e de protestar. Mas quem tenha por principal crédito um simples "trabalho e pago os meus impostos", tem o menor dos créditos. Para créditos extra, há que participar, há que fazer. Não temos todos de ser primeiros-ministros, ou secretários de estado, há muito mais por onde participar. Por onde dar o nosso tempo, esforço, empenho. Participemos no clube de futebol "cá da terra", na associação de cultura e recreio, nos escuteiros, nos bombeiros voluntários, na banda de música, na comissão de festas, na associação de pais, no... onde dê gosto e pareça útil. Participemos!

Participemos para lá do pagar a nossa quota anual. Atrevamo-nos a fazer parte dos orgãos dirigentes. Rapidamente descobriremos que é bem mais difícil "governar" do que pensamos, bem mais do que protestar. Pior, descobrimos que políticos agarrados ao poder estão onde menos se espera. Eles não são só os Passos, ou os Sócrates, ou outros supostos predestinados. Eles, os intriguistas, são aqueles em que confiamos, eles, os mentirosos, são os nossos amigos. Ou eram... Esses estão perdidos, nada há aí a perder, mas afrontá-los ainda tem os seus riscos. Lutar pode resultar em perder aqueles que acreditam nas mentiras e caem nas intrigas. Resultar em perder um pouco da fé no mundo...

Mesmo perdendo algumas lutas, mesmo com a fé abalada, mesmo sem objetivos grandiosos, e, como humanos que somos, sempre com o cuidado de não nos tornarmos um d'eles... mesmo assim acreditemos num mundo melhor. E se queremos um mundo melhor, há que continuar a ir além do "trabalho e pago os meus impostos". Como famosamente disse Kennedy, há que perguntar não o que o nosso país pode fazer por nós, mas o que podemos nós fazer pelo nosso país. Há que não cuidar das feridas, mais que o essencial para as sarar, superar os receios de novos revezes e... participar!

Não nos limitemos a exigir um mundo melhor. Participemos na sua construção.

1 comentário:

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