O gnomo de Delfos.
Não é um sindicato, mais uma agremiação: profetas, videntes,
adivinhadores. Também aceitam cartomantes, lançadores de búzios, leituras nas
borras do café. Para os últimos, a cota de admissão está limitada ao numerus clausus.
Delfos – a Delfos que aqui se fala – localiza-se num espaço
virado ao Atlântico, quem vem da europa no sentido sudoeste acaba por chegar.
É gerido pelas Pitonisas e acólitos serviçais, seres de vasta
sabedoria (as primeiras, os segundos é encosto).
Desde pequeno que as sacerdotisas lhe auguram um grande
crescimento: ao gnomo.
Cedo se lhe conheceram oráculos certeiros. E ele foi crescendo
(pouco) inflamando-se de convencimentos e acertamentos, possuído – ou possesso
- por sussurros de brisas captadas, aqui, ali.
Devido à sua natureza extra-sensorial, soía por bem partilhar
com o mundo todo o tipo de antecipações, não se poupando a trabalhos para
cumprir a missão.
A Grande Pitonisa gostava muito dele, e ensinou-lhe tudo o que
sabia.
Em pequenitote aproveitou os encontros estimulantes nas Ágoras
de verão, aquelas doces jornadas à volta dos seus pares, absorvendo a sapiência
dos tribunos oradores, completando com distinção e mérito todos os cursos e
etapas de futuro oráculo.
Outros havia que eram igualmente bons videntes, vaticinadores
competentes- cada um com a sua encenação – com estilos assertivos e
encantatórios, mas o pequeno gnomo, mal se lhe via a cara e a gravata
flamejante a despontar timidamente do bordo de uma mesa, ou de um púlpito,
movia multidões e era dos mais escutados.
E porquê?
Porque sabia tudo o que iria acontecer. Tudo de tudo, de todos
os assuntos possíveis e inimagináveis. E não só auspiciava como ainda vaticinava
mais certeiramente que os outros.
Nos labirintos de Delfos andava tudo espantado. Até onde
chegaria este pequeno homem?
Tudo indicava que poderia vir a ser o maior oráculo de todas as
eras – o gnomo – não se desse o caso, dos seus augúrios condicionarem os fiéis
incrédulos – dia e noite à porta do templo a mendigarem pelas suas notícias – congelando
as suas reações – e vidas insignificantes – até à revelação do oráculo
seguinte.
Cada vez que proferia profecias – todas as sextas feiras –punha
as gentes em suspenso, na expectativa de um bom presságio, sendo que o povo só
anseia por bons hipnotismos…magos de qualidade…e saber se lhe vai sair o
totoloto.
O mago não tinha fraquezas, acertava sempre. Se as ilusões dos mendicantes
acabavam por ser defraudadas, isso era fruto do seu fadário, porque o destino,
nem o grão mestre das pitonisas consegue alterar.
A grande pitonisa só se preocupa pelo seu destino pessoal.
Na subtilíssima arte da publicidade subtil, o nosso gnomo
pirralho não prenuncia futuros: é um mandado de recados etéreos, emanados do
além.
O gnomo não condiciona os acontecimentos, ele só age como
intermediário entre o inefável e a realidade.
É o melhor gnomo que temos e ainda por cá anda. E as pitonisas
também - não as melhores - mas as possíveis.
Delfos é lindo!
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