quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O GNOMO DE DELFOS




O gnomo de Delfos.

Não é um sindicato, mais uma agremiação: profetas, videntes, adivinhadores. Também aceitam cartomantes, lançadores de búzios, leituras nas borras do café. Para os últimos, a cota de admissão está limitada ao numerus clausus.

Delfos – a Delfos que aqui se fala – localiza-se num espaço virado ao Atlântico, quem vem da europa no sentido sudoeste acaba por chegar.

É gerido pelas Pitonisas e acólitos serviçais, seres de vasta sabedoria (as primeiras, os segundos é encosto).

Desde pequeno que as sacerdotisas lhe auguram um grande crescimento: ao gnomo.

Cedo se lhe conheceram oráculos certeiros. E ele foi crescendo (pouco) inflamando-se de convencimentos e acertamentos, possuído – ou possesso - por sussurros de brisas captadas, aqui, ali.

Devido à sua natureza extra-sensorial, soía por bem partilhar com o mundo todo o tipo de antecipações, não se poupando a trabalhos para cumprir a missão.

A Grande Pitonisa gostava muito dele, e ensinou-lhe tudo o que sabia.

Em pequenitote aproveitou os encontros estimulantes nas Ágoras de verão, aquelas doces jornadas à volta dos seus pares, absorvendo a sapiência dos tribunos oradores, completando com distinção e mérito todos os cursos e etapas de futuro oráculo.

Outros havia que eram igualmente bons videntes, vaticinadores competentes- cada um com a sua encenação – com estilos assertivos e encantatórios, mas o pequeno gnomo, mal se lhe via a cara e a gravata flamejante a despontar timidamente do bordo de uma mesa, ou de um púlpito, movia multidões e era dos mais escutados.

E porquê?

Porque sabia tudo o que iria acontecer. Tudo de tudo, de todos os assuntos possíveis e inimagináveis. E não só auspiciava como ainda vaticinava mais certeiramente que os outros.

Nos labirintos de Delfos andava tudo espantado. Até onde chegaria este pequeno homem?

Tudo indicava que poderia vir a ser o maior oráculo de todas as eras – o gnomo – não se desse o caso, dos seus augúrios condicionarem os fiéis incrédulos – dia e noite à porta do templo a mendigarem pelas suas notícias – congelando as suas reações – e vidas insignificantes – até à revelação do oráculo seguinte.

Cada vez que proferia profecias – todas as sextas feiras –punha as gentes em suspenso, na expectativa de um bom presságio, sendo que o povo só anseia por bons hipnotismos…magos de qualidade…e saber se lhe vai sair o totoloto.

O mago não tinha fraquezas, acertava sempre. Se as ilusões dos mendicantes acabavam por ser defraudadas, isso era fruto do seu fadário, porque o destino, nem o grão mestre das pitonisas consegue alterar.

A grande pitonisa só se preocupa pelo seu destino pessoal.

Na subtilíssima arte da publicidade subtil, o nosso gnomo pirralho não prenuncia futuros: é um mandado de recados etéreos, emanados do além.

O gnomo não condiciona os acontecimentos, ele só age como intermediário entre o inefável e a realidade.

É o melhor gnomo que temos e ainda por cá anda. E as pitonisas também - não as melhores - mas as possíveis.


Delfos é lindo!

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